29.4.12

O juiz que merecia não ficar incógnito

Por Ferreira Fernandes
SE QUERES ser famoso, filho, inscreve-te no Ídolos. Mas o Fulano foi para juiz e agora como vou eu saber como se chama Fulano? Esse, o que assinou a medida política (política, isto é, que trata da saúde da Polis, da cidade, dos cidadãos) mais justa desde que chegou a crise. Pronto, fica Fulano, o juiz estagiário de Portalegre, sem foto. 
Então que fez de notável o meritíssimo, superlativo por uma vez merecido, Fulano, de Portalegre? Desfez uma iniquidade. 
Enquadremos o assunto, bastante comum nos tempos recentes em que não faltava dinheiro, bastava pedi-lo. 
Para comprar casa, uma família ia ao banco para um empréstimo e o banco avaliava a casa o mais alto possível para a família ser ousada a pedir. Mas as mãos largas mirraram e a crise deu nisto: as pessoas deixaram de poder pagar o empréstimo. Todos os dias, 25 casas são entregues aos bancos. Não podiam pagar a casa e ficam sem ela, paciência... Mas é mais que isso: ficam sem a casa e continuam a pagar ao banco. É que o banco, nestes tempos murchos, avalia a casa, e fica com ela, por preço bem mais baixo do que quando, nos tempos eufóricos, a avaliara da primeira vez. Já arrasadas, como fica quem perde a casa, as famílias são esmifradas até à indecência. 
O juiz Fulano, que julgava um caso desses, foi salomónico: a família, que apostou mal, fica sem a casa; e o banco, que também apostou mal, fica com a casa e só. 
Dizem que pode fazer doutrina. Eu digo que só pode. 
«DN» de 29 Abr 12

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