O juiz que merecia não ficar incógnito
SE QUERES ser famoso, filho, inscreve-te no Ídolos. Mas o Fulano foi para
juiz e agora como vou eu saber como se chama Fulano? Esse, o que assinou
a medida política (política, isto é, que trata da saúde da Polis, da
cidade, dos cidadãos) mais justa desde que chegou a crise. Pronto, fica
Fulano, o juiz estagiário de Portalegre, sem foto.
Então que fez de
notável o meritíssimo, superlativo por uma vez merecido, Fulano, de
Portalegre? Desfez uma iniquidade.
Enquadremos o assunto, bastante comum
nos tempos recentes em que não faltava dinheiro, bastava pedi-lo.
Para
comprar casa, uma família ia ao banco para um empréstimo e o banco
avaliava a casa o mais alto possível para a família ser ousada a pedir.
Mas as mãos largas mirraram e a crise deu nisto: as pessoas deixaram de
poder pagar o empréstimo. Todos os dias, 25 casas são entregues aos
bancos. Não podiam pagar a casa e ficam sem ela, paciência... Mas é mais
que isso: ficam sem a casa e continuam a pagar ao banco. É que o banco,
nestes tempos murchos, avalia a casa, e fica com ela, por preço bem
mais baixo do que quando, nos tempos eufóricos, a avaliara da primeira
vez. Já arrasadas, como fica quem perde a casa, as famílias são
esmifradas até à indecência.
O juiz Fulano, que julgava um caso desses,
foi salomónico: a família, que apostou mal, fica sem a casa; e o banco,
que também apostou mal, fica com a casa e só.
Dizem que pode fazer
doutrina. Eu digo que só pode.
«DN» de 29 Abr 12 Etiquetas: autor convidado, F.F
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home