Bons sentimentos e boa informação
POIS, então, Miguel Portas era filho de e irmão de. E foi também um
político cordato. É bom saber que tinha família notável e que a
convicção não obriga à antipatia. Na hora dos obituários - generosa, por
tradição - cai bem que se diga bem. Porém, eu, que não privei com
Miguel Portas, gostaria de ler coisas mais substantivas. Os jornais não
deram e admiti que não as houvesse. Ter passado pelo PCP e fundado o
Bloco de Esquerda não é necessariamente uma medalha. Já estava
conformado em sair com pouco deste acontecimento, apesar do
extraordinário relevo que lhe foi dado, quando me dei conta de um vídeo,
que se tornou viral (não era só eu a querer factos...): "Não consigo
compreender como um eurodeputado no dia em que viaja pode receber 300
euros em ajudas de custo, mais o subsídio de distância e mais um
subsídio de tempo...", protestava o eurodeputado Miguel Portas, cordato
(mas não foi só isso que anotei), no Parlamento Europeu, em fevereiro de
2010, já em tempo de crise, onde se acabava de votar aumento para os
eurodeputados. "Temos a obrigação de dar o exemplo e hoje demos um mau
exemplo", concluiu ele. Discurso bonito mas isolado?
Ontem, escrevia um
correspondente em Bruxelas: "Ele foi o mais ativo na luta contra os
privilégios desmesurados dos seus colegas deputados." E alinhava vários
exemplos. Ontem, foi pelo texto desse jornalista de um jornal
estrangeiro, El Mundo, que eu confirmei a dimensão pública de Miguel
Portas.
«DN» de 27 Abr 12 Etiquetas: autor convidado, F.F
2 Comments:
Vi essa intervenção há tempos.
A agora que este partiu,
a desafiar uma adesão ao seu BE.
Não sei se mais algum deputado do Parlamento Europeu conseguiu fazer eleger como deputada para esse mesmo Parlamento a sua intelectualmente deslavada companheira. Mas ele conseguiu. Vamos lá parar de vestir com cândida toga branca esse Miguel Portas! O Estado Espanhol acaba de mandar desistir do processo fiscal contra José Saramago por este não ter pago cerca de 800.000 Euros às Finanças de Espanha dizendo que pagava esses impostos em Portugal! O que era obviamente falso. Foi uma condescendência para com um já falecido escritor Prémio Nobel. MAS NÃO O ABSOLVEU! Parece-me que também não devemos absolver o falecido Miguel Portas das suas diatribes "democráticas". Parece-me.
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