Olhos secos para ver o que é bom
ESTA semana, o duelo aqui do lado, por adversários interpostos, contra o
Chelsea e o Bayern, sublinhou dois futebóis. Ao fim do duelo, sabe-se,
morreram os dois. Eu sei que os adeptos de um ou de outro, culés e
merengues, depois de curadas as mágoas próprias, acabarão com mais
desdém pelo outro.
Numa noite de 1965, eu estava pela primeira vez no
Estádio da Luz. O Manchester United veio ganhar 5-1 e, à minha volta,
chorava-se e rasgavam-se cartões de sócio. Eu guardei os olhos secos e
vi o nascimento de uma estrela, George Best. Desde aí fiquei-me
agradecido por saber, apesar da cor preferida, olhar para um campo
inteiro (não foi lição que me tivesse ficado só para o futebol). Eis o
que me permite sair do duelo desta semana ganhando com ele. Barcelona e
Real Madrid, um, contemplação, outro, emoção.
Vermeer a pôr uma pérola
num brinco, Goya a fuzilar numa colina. Luchino Visconti, lento como a
cara de um pescador siciliano, Fellini, excessivo como um par de mamas
na Emilia-Romagna. Santa Teresa de Ávila, mística, São Jorge com a lança
na goela do dragão.
Porque excluir, quando posso juntar? Vejo dois,
Messi tecendo, Cristiano Ronaldo explodindo, e não me arrependo de
querer ver os dois. Ainda bem que o posso dizer com os dois por terra,
para que se saiba que é um gosto e não uma moda.
Barcelona e Real Madrid
perderam? Pois eu ganhei com eles.
«DN» de 26 Abr 12 Etiquetas: autor convidado, F.F
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