Brigada
Por João Paulo Guerra
UM DEPUTADO, a respeito do qual a opinião pública não terá razões para ter fixado o nome, referiu-se aos militares que fizeram o 25 de Abril apodando-os de “brigada do reumático”.
Há a possibilidade de o deputado ser absolutamente ignorante -
nenhuma lei o impede - e não saber que "brigada do reumático" foi a
designação dada aos oficiais superiores que, por oposição aos militares
que preparavam o 25 de Abril, beijaram a mão e engraxaram as botas do
fascismo quando este agonizava, situação que eles não conheciam nem
previam. Ou então, há a hipótese do deputado ser desprovido das mais
elementares regras de educação e civismo.
Mas esta falta de consideração pelos fundadores da democracia
portuguesa pode querer dizer mais alguma coisa. Pode significar, por
exemplo, que o deputado em questão quer com esta grosseria dizer que o
25 de Abril não lhe diz nada e que sem a revolução de Abril estaria hoje
bem instalado na vida social, na política e à mesa do Orçamento.
Poderia ter descido das berças para se assumir como um imperturbável
deputado da União Nacional, um taciturno secretário ou subsecretário de
Estado do poder central, um indiferente chefe de brigada da polícia, um
silente oficial da censura, enfim oportunidades não lhe faltariam. O 25
de Abril é que lhe afastou tais oportunidades do caminho.
Apesar da coloração maioritária do Parlamento não haverá muitos pares
do parlamentar capazes de partilhar a galegada através da qual o
praticamente desconhecido deputado quis ganhar um pouco de notoriedade.
Mas a verdade é que há na casta política portuguesa alguns espécimes que
parecem ter vergonha do 25 de Abril. Quando, em boa verdade, o 25 de
Abril é que tem todas as razões para se envergonhar deles.
«DE» de 26 Abr 12Etiquetas: JPG
3 Comments:
Bom, o 25 de Abril não lhe tolheu a oportunidade de ser... deputado.
Por um lado, ainda bem.
Mas, o que devia ser a casa da democracia, parece há décadas andar muito mal frequentada.
E digo-o à vontade pois que, na prática, não consigo votar em deputados que me representem. Uns senhores, de uns partidos, arranjam-lhes as posições em listas e eu, se voto, tenho que votar naquelas estampas. Que são em número excessivo, às dezenas e dezenas...
Que raio, a "ciência política" e a matemática não conseguem melhor em matéria de representação dos cidadãos?
Fraca democracia.
Um texto certeiro e justo.
Quem é esta "besta"?
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