26.4.12

Brigada


Por João Paulo Guerra
UM DEPUTADO, a respeito do qual a opinião pública não terá razões para ter fixado o nome, referiu-se aos militares que fizeram o 25 de Abril apodando-os de “brigada do reumático”. Há a possibilidade de o deputado ser absolutamente ignorante - nenhuma lei o impede - e não saber que "brigada do reumático" foi a designação dada aos oficiais superiores que, por oposição aos militares que preparavam o 25 de Abril, beijaram a mão e engraxaram as botas do fascismo quando este agonizava, situação que eles não conheciam nem previam. Ou então, há a hipótese do deputado ser desprovido das mais elementares regras de educação e civismo.
Mas esta falta de consideração pelos fundadores da democracia portuguesa pode querer dizer mais alguma coisa. Pode significar, por exemplo, que o deputado em questão quer com esta grosseria dizer que o 25 de Abril não lhe diz nada e que sem a revolução de Abril estaria hoje bem instalado na vida social, na política e à mesa do Orçamento. Poderia ter descido das berças para se assumir como um imperturbável deputado da União Nacional, um taciturno secretário ou subsecretário de Estado do poder central, um indiferente chefe de brigada da polícia, um silente oficial da censura, enfim oportunidades não lhe faltariam. O 25 de Abril é que lhe afastou tais oportunidades do caminho.
Apesar da coloração maioritária do Parlamento não haverá muitos pares do parlamentar capazes de partilhar a galegada através da qual o praticamente desconhecido deputado quis ganhar um pouco de notoriedade. Mas a verdade é que há na casta política portuguesa alguns espécimes que parecem ter vergonha do 25 de Abril. Quando, em boa verdade, o 25 de Abril é que tem todas as razões para se envergonhar deles.
«DE» de 26 Abr 12

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3 Comments:

Blogger José Batista said...

Bom, o 25 de Abril não lhe tolheu a oportunidade de ser... deputado.
Por um lado, ainda bem.
Mas, o que devia ser a casa da democracia, parece há décadas andar muito mal frequentada.
E digo-o à vontade pois que, na prática, não consigo votar em deputados que me representem. Uns senhores, de uns partidos, arranjam-lhes as posições em listas e eu, se voto, tenho que votar naquelas estampas. Que são em número excessivo, às dezenas e dezenas...
Que raio, a "ciência política" e a matemática não conseguem melhor em matéria de representação dos cidadãos?
Fraca democracia.

26 de abril de 2012 às 10:10  
Blogger Carlos Esperança said...

Um texto certeiro e justo.

26 de abril de 2012 às 17:12  
Blogger Bmonteiro said...

Quem é esta "besta"?

27 de abril de 2012 às 18:45  

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