24.4.12

O desamor dos patifes à camisola

Por Ferreira Fernandes 
MILÃO tem também o seu Coliseu, mais recente, mandado construir por Napoleão. O circo de Buffalo Bill, quando andou pela Europa, exibiu lá a tristeza de Touro Sentado e a pontaria de Calamity Jane. Mais de um século depois, em 2007, desdobrou-se ali a maior camisola de futebol do mundo, 5280 m2, numa daquelas parvoíces para recorde do Guinness. No entanto, havia como que poesia na exibição gigantesca de uma camisola de futebol na arena que agora se chama Gianni Brera, em homenagem ao maior jornalista de futebol italiano (1919-1992). Brera fez a carreira toda em Milão - onde ele inventou a palavra "libero", que daria a volta ao mundo dos estádios -, mas não se apaixonou por nenhum dos dois colossos da cidade, Milan ou Inter. O futebol tem fidelidades estranhas e o homem que com a caneta fazia equipas campeãs europeias só tinha olhos para uma camisola, a azul e vermelha do Génova, que da última vez que ganhou o campeonato italiano, em 1924, ele tinha cinco anos. No domingo passado, o Génova estava a perder em casa por 4 a 1, e nas bancadas quiseram que ele começasse a perder a honra. Dezenas de imbecis invadiram o campo e obrigaram os jogadores a tirar a camisola. Alguns dos jogadores choravam. Não deviam, o Génova será sempre de Gianni Brera e dos garotos de cinco anos. Mas fica aquele amargo de boca, e não estou só a pensar no Génova, por ver amores belos e inexplicados tão facilmente abusados por gente rasteira. 
«DN» de 24 Abr 12

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