Da liberdade virtual
Por Manuel António Pina
O MINISTÉRIO da Educação despachou que, a partir do próximo ano lectivo,
os pais terão "liberdade de escolha" (bonita expressão) da escola dos
filhos, independentemente do seu lugar de residência. Só que não terão
nada para escolher...
Com efeito, as vagas existentes nas escolas
não são, descobriu com surpresa o Ministério, infinitamente elásticas e
já hoje, nos centros urbanos, as mais procuradas não conseguem sequer
satisfazer os pedidos de matrícula preenchendo as condições
preferenciais previstas na lei, entre elas a da área de residência. Como
tais condições se mantêm, bem poderão os pais "escolher" essas escolas
para matricular os rebentos, que a sua "liberdade de escolha" se ficará
por aí e não terá resultado prático algum.
O próprio Ministério
teve que reconhecer, uma escassa semana depois de ter tão
despachadamente despachado, que a medida "pode acabar por não ser tão
eficaz quanto se desejaria em zonas de maior concentração populacional",
isto é, nos centros urbanos. Restam as zonas rurais, de menor
"concentração populacional". Mas aí haverá, quando muito, uma escola e a
"liberdade de escolha" dos pais será a de... escolher essa escola, ou
então as que eventualmente existam a dezenas e dezenas de quilómetros de
distância, nos... centros urbanos de "maior concentração populacional".
Há, claro, uma solução (Nuno Crato já deve estar a fazer as contas): turmas, não com 30, mas com 3000 alunos.
«JN» de 23 Abr 12 Etiquetas: MAP
1 Comments:
Há textos pequeninos que dizem tanto.
Este não podia dizer mais.
Ou este o o de "oráculos" que fazem lençóis de erudição filosófica...
Obrigado sempre sempre Manuel António Pina.
Enviar um comentário
<< Home