Ódio à diferença
Por Manuel António Pina
É EM MOMENTOS como o ontem vivido no Alto da Fontinha que Rui Rio revela
o seu rosto de autocrata e a sua aversão a tudo o que lhe cheire a
diferença, particularmente a todas a formas de cultura e cidadania que
escapem à Kultura, ao papel "couché" e à rotina institucional.
No edifício da antiga Escola da Fontinha, há cinco anos ao
abandono, nascera espontaneamente, por iniciativa dos moradores e outras
pessoas, um projecto cívico autónomo que, durante um ano, sem mendigar
subsídios, fez a "diferença", infeccionando de vida comunitária e,
sobretudo, de esperança, o resignado quotidiano de uma das inúmeras
zonas degradadas que, longe do olhar dos turistas, persistem no coração
da cidade.
Uma ilha de iniciativa, de partilha, de democracia
participativa? Era de mais para Rui Rio. Ateliês de leitura, de música,
de teatro, de fotografia?, formação contínua?, apoio educativo?, aulas
de línguas?, xadrez?, yoga?, debates?, assembleias? - Intolerável!
De
nada valeu ao movimento Es.Col.A constituir-se em associação, como lhe
exigira a Câmara com a promessa de um contrato que nunca chegaria. Como
os "Blue Meanies" de "O submarino amarelo", as retinas de Rui Rio não
suportam as cores vibrantes e indisciplinadas dos sonhos. Ontem, por sua
ordem, a Polícia cercou o bairro, invadiu armada a Escola da Fontinha,
prendeu pessoas e destruiu e pilhou as instalações. E Pepperland voltou
de novo a ser cabisbaixa e cinzenta.
«JN» de 20 Abr 12 Etiquetas: MAP
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