18.4.12

Contem-nos como foi, contem-nos

Por Ferreira Fernandes

ONTEM, num festival de cinema em Ponta Delgada, Açores, foi apresentado o filme português Mazagão. Não vi e gostei muito. Embora tenha uma criticazinha a fazer: ficou muito aquém da realidade. Quer dizer, o filme pode ser extraordinário, mas nunca chega à genialidade histórica que conta.
Mazagão, fortaleza portuguesa na costa marroquina, em Quinhentos - a função era a da época, ajudar a descer pela África e subir à Índia. Esse Mazagão cumpriu mas, em 1769, um dos raros estadistas que tivemos viu-lhe o fim. A costa marroquina era-nos, então, tão útil como fazer vinho a martelo no século XXI. O marquês de Pombal mandou fechar a loja e barcos buscar as gentes.
Escravos, povo, clero e nobres subiram aos barcos pensando ir ver o Tejo, mas a viagem era outra. Pombal como que lhes prolongou o contrato e a idade da reforma, fez a primeira deslocalização de empresa. Foi sem coração? Foi, mas com visão. Ala para o Brasil, onde era necessário assegurar as fronteiras do Norte. Mazagão, a marroquina e seca, foi reinventada, chamada também Mazagão, no território do Amapá, nas margens do rio Mutuacá.
Quem vê agora a primeira povoação, Mazagão Velho, comida pela selva amazónica, e a seguinte, Mazagão Novo, simples vilória, não percebe o que está ali: garantida a dimensão continental do Brasil.
O tal filme tem montagem de Sudip Chattopadhyaya, um emigrante indiano que vive há dez anos nos Açores. Acho que o filme percebeu do que falava.
«DN» de 18 Abr 12

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