17.4.12

«Dito & Feito»

Por José António Lima

SEJAMOS claros. Quando, em Outubro passado, ao divulgar as medidas de austeridade integradas no Orçamento para 2012, o Governo anunciou o corte dos subsídios de férias e de Natal dos funcionários públicos e pensionistas, deixou deliberadamente uma margem de ambiguidade sobre o período em que vigoraria tal medida.

Em 2012 e 2013? Até ao 1.º semestre de 2014, quando termina o programa de ajustamento da troika? Até ao final de 2014?

E o ministro Vítor Gaspar não só alimentou essa ambiguidade como, ao longo de semanas em que surgiram as interpretações mais erróneas, nunca cuidou de esclarecer a enorme confusão reinante e. Pior: ele próprio chegou a afirmar publicamente que o corte dos subsídios iria «acabar em 2013».

Em suma, o Governo não quis dar as más notícias todas de uma vez e ajudou a manter esse véu de indefinição, fugindo a revelar a verdade. Só a inconveniente inconfidência de um responsável de Bruxelas, sugerindo que os cortes dos subsídios de férias e de Natal poderiam ser definitivos, obrigou agora o Governo a vir a terreiro garantir que «o corte de subsídios é temporário». E o seu ministro das Finanças a reconhecer que «por lapso» tinha faltado à verdade. E que, no final de contas, os subsídios só regressariam em 2015.

Nesta história de meias verdades e meias mentiras, faltava aparecer Passos Coelho a acrescentar que, sim senhor, será em 2015, mas com uma «reposição gradual». Gradual como? Só um dos subsídios? Um terço de ambos? Um quinto? Isso, adianta Passos, «não sabemos». Porque tudo depende «das condições que vão existir em 2014 e 2015». Uma dessas condições sabemos bem qual é – haverá eleições legislativas nesse ano de 2015 – e, valha-nos isso, ajuda a que o Governo cumpra a palavra.

VÍTOR Gaspar e Passos Coelho também garantiram, nas últimas semanas, que não previam mais medidas de austeridade em 2012, a não ser por motivos excepcionais. Entretanto, já congelaram as reformas antecipadas até 2014. E anunciaram que os contratos a termo certo passam a caducar sem aviso prévio e sem direito a indemnização. Se isto não são novas medidas de austeridade, são o quê?

Falar verdade ao país já deixou de ser uma marca deste Governo? Parece que sim.
«SOL» de 13 Abr 12

Etiquetas: ,

2 Comments:

Blogger José Batista said...

E falar verdade alguma vez foi uma marca deste governo?
Ou do anterior a este?
Ou do anterior ao anterior?

Por mim, tenho a certeza que não.
Nem dos governos, nem dos deputados nem dos dirigentes partidários.
Parece uma condenação. E é.

Que raio de democracia a nossa!

17 de abril de 2012 às 22:54  
Blogger JARRA said...

A marca de água deste governo é o cinismo - e só muito tarde percebi que quando Passos Coelho pediu em tempos desculpa aos portugueses, essa foi a primeira expressão do seu cinismo e falta de carácter- na realidade, vejo agora, nunca esteve arrependido!
O grande drama para os portugueses é a falta de alternativas que tragam esperança - porque em democracia, os mentirosos e os incapazes, devem simplesmente ser substituídos!

18 de abril de 2012 às 10:28  

Enviar um comentário

<< Home