17.4.12

"No sentido figurado"

Por Manuel António Pina

APÓS 15 dias de reflexão, imagina-se que profunda, sobre a agressão (mais uma, desta vez à chapada e à cabeçada) de duas caloiras da Universidade de Coimbra que se recusaram a ser "praxadas" e acabaram no hospital, o magnífico reitor dessa Universidade chegou à não menos magnífica conclusão, que ontem publicamente anunciou, de que é "completamente inaceitável qualquer tipo de violência" na praxe académica. Não anunciou foi qualquer medida, ou sequer qualquer projecto de medida, ou apenas qualquer projecto de projecto de medida, com que tencione dar corpo a essa judiciosa conclusão.

Para o reitor, que sublinha que os próprios estudantes, através do Conselho de Veteranos, "tomar[am] a iniciativa de condenar" os abusos, o que deve fazer-se é aguardar e "deixar os estudantes avançar no tratamento desta questão, de resolvê-la". E, enquanto o reitor chuta para o lado, o ministro da Educação pede "civilidade" e passa, por sua vez, a bola ao reitor.

A única posição por assim dizer consequente quanto à rotina de violência física e psicológica praticada por estudantes mais velhos sobre os estudantes recém-chegados a pretexto da praxe é a do "dux veteranorum" dos praxistas de Coimbra, para quem participar na praxe "exige uma postura de cavalheiros, no sentido figurado".

"Cavalheiros no sentido figurado" é uma boa expressão para catalogar os gangues de capa e batina que por estes dias andam por aí à solta.
«JN» de 17 Abr 12

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