17.4.12

Von Clausewitz

Por João Paulo Guerra

HÁ ALGUM paternalismo de extração vagamente neocolonial na forma como Portugal aborda e enfrenta as questões relacionadas com os novos países de língua oficial portuguesa.

Exceção feita quando fala ou trata de negócios, que aí o poder advoga relações bilaterais de troca com proveito mútuo, Portugal lida com os jovens países como alunos mal comportados e com fraco aproveitamento na cadeira de democracia política, dando-lhes mais discretas ou mais ostensivas lições de uma matéria na qual tem tanta experiência recente como os seus pretensos alunos. O Portugal democrático, digamos assim, é da geração dos chamados palopes.

Claro que há em tudo isto uma alguma dose de hipocrisia. Nos novos estados de língua oficial portuguesa dominam, com mais ou menos derivantes, as elites saídas da luta de libertação nacional e da descolonização, em relação às quais os partidos que em Portugal constituem o grande bloco do situacionismo sempre foram hostis, alimentando propaganda e até conspirações. Mais recentemente, os partidos que têm ocupado o poder em Portugal engoliram a pilula porque há interesses económicos e estratégicos que recomendam que se ponha a ideologia no saco, ou na gaveta. Mas o trato sobranceiro, paternalista e autoritário ficou.

Vem isto a propósito do modo como Portugal reagiu ao golpe militar na Guiné-Bissau, mobilizando e mandando de imediato avançar a tropa, o que poderá ser visto como dar continuação à política por outros meios, como diria o barão von Clausewitz. Ou seja, comportando-se como potência administrante de um país independente.

Há governantes portugueses que parecem não perdoar a si próprios o facto de terem perdido a oportunidade histórica de seguir a política da velha senhora.
«DE» de 17 Abr 12

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