14.4.12

Trafulhices de segunda

Por Ferreira Fernandes

É UMA moldura penal - "simulação de crime e denúncia caluniosa qualificada" - que não merece ser encaixilhada. Não chega nem para prisão efetiva. Nesta altura do campeonato, qualquer que seja a evolução do caso, deve ser duro para o ex-inspetor da PJ Pereira Cristóvão ser sujeito a acusações tão sem garra. Vale e Azevedo, ao menos, foi acusado de trafulhice autêntica.
No futebol, as denúncias caluniosas ("sô árbitro, o central bateu-me...") levam com assobiadelas da bancada e as simulações admitem-se só no relvado e quando geniais (como aquela de Garrincha, sempre a mesma, fingir que ia para a direita, e ir para a direita). Depois, o modus operandi não podia ser mais tolo. Que falta de fio de jogo! Eu quero comprometer um tipo e mando um funcionário meu depositar as notas incriminatórias num balcão de banco. Quer dizer, passo uma vida na Brigada de Combate ao Banditismo e Corrupção e esqueço que há câmaras de vigilância nos balcões bancários. É possível? Segundo a suspeita, é. Tanto como ter uma empresa de espionagem onde os detetives são coxos e trapalhões. Na verdade, tudo o que terá sido ação, foi mal feito. Mesmo o truque da carta, simulando ser denúncia de mulher, parece apontar o autor: um polícia ou ex-polícia português (fã de psicologia barata, pois). A única coisa bem feita foi a escolha do nome da vítima, José Cardinal. E mesmo nela, para o circo ser completo, faltou qualquer coisa.
«DN» de 14 Abr 12

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