13.4.12

Mais um altíssimo elogio a Portugal

Por Ferreira Fernandes

ELE ERA o maior satélite de observação jamais construído, oito toneladas a 800 km de altura, olhando-nos com dez instrumentos. O satélite Envisat fez 50 mil voltas desde que começou a trabalhar em 2002, alimentou 4000 projetos com dados que enviava - sobre a atmosfera, os gelos que desaparecem, as terras submersas. A fotografia que tínhamos de nós a partir de todos os satélites anteriores ficou três vezes mais nítida com ele.
No dia 8 de abril, o teimoso Envisat deitou à Terra um último olhar e desapareceu. A Agência Espacial Europeia que o construiu nada mais sabe dele, nem lhe chegam aqueles bip-bips dos Sputniks da pré-história, nos anos 50.
Cito isto, noticioso, para lembrar o simbolismo que os satélites também podem ter. Aquele último olhar do Envisat, antes de se despedir, foi sobre uma moldura nebulosa que sublinhava uma costa perfeitamente delineada. As rias galegas, o arco que cai até ao ponto mais ocidental do continente europeu, o Cabo da Roca, a boca do Tejo e outra curva suave descendo, até uma abrupta inversão oriental, Sagres. O Envisat, como vos disse, levava radares de alta precisão e espectrómetros, via-se que ia ali um engenheiro, capaz de medir todas as rotundidades da Terra. Mas, no seu adeus, o satélite revelou-se também humanista e agradecido.
O último olhar do Envisat, que passou a vida a medir a Terra, foi para o lugar onde ela começou a ter forma.
«DN» de 13 Abr 12

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2 Comments:

Blogger Maria said...

Que forma romântica e bonita, de contar o fim de um Satélite. Comoveu-me muito, a frase final:
"O último olhar do Envisat, que passou a vida a medir a Terra, foi para o lugar onde ela começou a ter forma."
Tão lindo!
Maria

13 de abril de 2012 às 17:23  
Blogger Man said...

Foi a controvérsia que o matou.

http://ecotretas.blogspot.pt/2012/04/envisats-mysteries.html

13 de abril de 2012 às 18:22  

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