11.4.12

Facebook compra saudade

Por Ferreira Fernandes

VELHADAS (já vai a caminho dos 30), Mark Zuckerberg, o patrão do Facebook, tinha 15 anos quando foi da bolha da Internet. Foi um desastre, a especulação nas empresas "ponto.com", década de 90 - uma bolha que rebentou. Mas quem, apesar das borbulhas, não guarda boas recordações da sua adolescência? Zuckerberg, patrono do "queres ser meu amigo?", deve sentir-se atraído pelo rebentar da bolha da rede social. Vai daí, deu mil milhões de dólares pela Instagram (empresa só com 551 dias e onze trabalhadores), que, através de filtros, põe velhas as nossas fotografias.
À falta de exportar pastéis de nata, exportamos a saudade: não sem razão, um dos dois fundadores da Instagram, o brasileiro Mike Krieger viveu em Portugal. Pôr sépia em fotos modernas é a melhor forma de revisitarmos a Belle Époque, com a vantagem de levarmos penicilina, entretanto já inventada (acreditem, Toulouse-Lautrec não achou piada à sífilis).
Esse navio Balmoral, que no domingo partiu de Southampton imitando o Titanic, tem a ementa de há cem anos e orquestra disposta a tocar a pique, é uma aplicação Instagram gigante. Presume ter destino marcado com um iceberg na próxima noite de 14 para 15 e já ontem se comoveu por causa de umas ondas de dez metros. Mas, lá no fundo (de cada passageiro, não do oceano), espera-se que se fique por aí (pelas ondas, não pelo icebergue).
As fotos modernas em sépia somos nós, escarrapachados.
«DN» de 11 Abr 12

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