«Dito & Feito»
Por José António Lima
NÃO É FÁCIL a vida de um líder na Oposição após o seu partido ter caído de um longo ciclo no poder.
Tem pela frente a tarefa de recompor um debilitado aparelho de militantes desmotivados e apoiantes desmobilizados, vê-se permanentemente contestado internamente pelo que faz e pelo que não faz – e a longínqua e insatisfatória perspectiva de um regresso às cadeiras do poder é uma ameaça constante à sua liderança. A taxa de sobrevivência desta categoria de líderes de transição é quase nula. Basta recordar os casos de Fernando Nogueira após o fim do cavaquismo ou de Ferro Rodrigues a seguir ao ciclo do guterrismo.
António José Seguro inclui-se nesta categoria. E enfrenta condições ainda mais adversas. O seu antecessor, José Sócrates, é visto pela maioria dos portugueses como primeiro responsável pela gravíssima crise em que afundou o país – uma marca negativa e com consequências tão nefastas e duradouras que o eleitorado dificilmente perdoará o PS nos próximos tempos. Ao mesmo tempo, Sócrates deixou o partido e quem se lhe seguiu na liderança amarrados ao inflexível memorando que subscreveu com a troika – e que limita, de forma drástica e a prazo de três anos, a margem de autonomia e de intervenção política do novo líder.
Como se não bastasse, o que resta dos apaniguados de Sócrates no grupo parlamentar do PS e nas estruturas dirigentes do partido tem ocupado a maior parte do seu tempo a fazer a vida ainda mais negra a António José Seguro. Não admira, pois, que neste ambiente de guerrilha interna o líder da UGT, João Proença, tenha feito um diagnóstico certeiro: «Há no PS quem não assuma que perdeu as eleições e esqueça o que assinou». A clique socrática percebeu certamente a mensagem.
Não admira, também, que António José Seguro, à cautela, tenha promovido umas controversas alterações estatutárias no PS que lhe permitem, teoricamente, escapar ao destino fatal dos líderes transitórios. Aprovou um alargamento, a partir de 2013, do mandato de secretário-geral para depois de legislativas, assim evitando um perigoso Congresso em 2014 ou em 2015, onde António Costa o poderia apear da liderança. Costa, como é óbvio, não gostou das alterações e exprimiu o seu espanto: «Uma coisa como nunca vi»...
O problema de Seguro é que não há estatutos, por mais blindados que estejam, que evitem a insustentabilidade política de um líder partidário.
«SOL» de 6 Abr 12NÃO É FÁCIL a vida de um líder na Oposição após o seu partido ter caído de um longo ciclo no poder.
Tem pela frente a tarefa de recompor um debilitado aparelho de militantes desmotivados e apoiantes desmobilizados, vê-se permanentemente contestado internamente pelo que faz e pelo que não faz – e a longínqua e insatisfatória perspectiva de um regresso às cadeiras do poder é uma ameaça constante à sua liderança. A taxa de sobrevivência desta categoria de líderes de transição é quase nula. Basta recordar os casos de Fernando Nogueira após o fim do cavaquismo ou de Ferro Rodrigues a seguir ao ciclo do guterrismo.
António José Seguro inclui-se nesta categoria. E enfrenta condições ainda mais adversas. O seu antecessor, José Sócrates, é visto pela maioria dos portugueses como primeiro responsável pela gravíssima crise em que afundou o país – uma marca negativa e com consequências tão nefastas e duradouras que o eleitorado dificilmente perdoará o PS nos próximos tempos. Ao mesmo tempo, Sócrates deixou o partido e quem se lhe seguiu na liderança amarrados ao inflexível memorando que subscreveu com a troika – e que limita, de forma drástica e a prazo de três anos, a margem de autonomia e de intervenção política do novo líder.
Como se não bastasse, o que resta dos apaniguados de Sócrates no grupo parlamentar do PS e nas estruturas dirigentes do partido tem ocupado a maior parte do seu tempo a fazer a vida ainda mais negra a António José Seguro. Não admira, pois, que neste ambiente de guerrilha interna o líder da UGT, João Proença, tenha feito um diagnóstico certeiro: «Há no PS quem não assuma que perdeu as eleições e esqueça o que assinou». A clique socrática percebeu certamente a mensagem.
Não admira, também, que António José Seguro, à cautela, tenha promovido umas controversas alterações estatutárias no PS que lhe permitem, teoricamente, escapar ao destino fatal dos líderes transitórios. Aprovou um alargamento, a partir de 2013, do mandato de secretário-geral para depois de legislativas, assim evitando um perigoso Congresso em 2014 ou em 2015, onde António Costa o poderia apear da liderança. Costa, como é óbvio, não gostou das alterações e exprimiu o seu espanto: «Uma coisa como nunca vi»...
O problema de Seguro é que não há estatutos, por mais blindados que estejam, que evitem a insustentabilidade política de um líder partidário.
Etiquetas: autor convidado, JAL
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