Falar de mais pensar de menos
Por Ferreira Fernandes
HÁ UNS ANOS, poucos, um amigo da PJ soprou a uma jornalista - e ela apressou-se a trespassar o frete no seu matutino - a seguinte notícia (cito de memória, mas garanto a tolice): "Hoje, pelas 13.00, a Brigada Antidroga vai deter o traficante Fulano de Tal, na Rua Ai Se Eu Te Pego, n.º 15, no Porto." O polícia quis boicotar o trabalho de colegas? Talvez a explicação seja mais simplória: um polícia falou de mais, sem querer, e uma jornalista publicou de mais, sem pensar.
Ontem, soubemos pelos jornais que houve uma reunião de dirigentes da arbitragem onde foi decidido pedir que os telemóveis dos árbitros ficassem sob escuta. Curiosa notícia. Há semanas, uns pulhas tornaram público, pela Internet, os números telefónicos de árbitros; depois disso, alguns têm sofrido ameaças. Pedir que os seus próprios telemóveis fiquem sob escuta era para se protegerem e tentar saber quem os ameaça. Ora, tornar público o pedido de escutas alerta os canalhas e prejudica as vítimas.
Especulemos, então, sobre como surgiu a notícia do decidido naquela reunião. Havia dois grupos a saber da coisa: um, os da reunião, dois, as instâncias judiciais às quais se pediu a escuta. Ninguém dos dois grupos está interessado na notícia, pelo contrário - e, no entanto, alguém de um dos dois grupos sofre do mal nacional: falou de mais. Quanto ao jornal que se apressou a dar a notícia, só fez o costume, pensou de menos.
Este país começa a ser demasiado previsível.
«DN» de 9 Abr 12HÁ UNS ANOS, poucos, um amigo da PJ soprou a uma jornalista - e ela apressou-se a trespassar o frete no seu matutino - a seguinte notícia (cito de memória, mas garanto a tolice): "Hoje, pelas 13.00, a Brigada Antidroga vai deter o traficante Fulano de Tal, na Rua Ai Se Eu Te Pego, n.º 15, no Porto." O polícia quis boicotar o trabalho de colegas? Talvez a explicação seja mais simplória: um polícia falou de mais, sem querer, e uma jornalista publicou de mais, sem pensar.
Ontem, soubemos pelos jornais que houve uma reunião de dirigentes da arbitragem onde foi decidido pedir que os telemóveis dos árbitros ficassem sob escuta. Curiosa notícia. Há semanas, uns pulhas tornaram público, pela Internet, os números telefónicos de árbitros; depois disso, alguns têm sofrido ameaças. Pedir que os seus próprios telemóveis fiquem sob escuta era para se protegerem e tentar saber quem os ameaça. Ora, tornar público o pedido de escutas alerta os canalhas e prejudica as vítimas.
Especulemos, então, sobre como surgiu a notícia do decidido naquela reunião. Havia dois grupos a saber da coisa: um, os da reunião, dois, as instâncias judiciais às quais se pediu a escuta. Ninguém dos dois grupos está interessado na notícia, pelo contrário - e, no entanto, alguém de um dos dois grupos sofre do mal nacional: falou de mais. Quanto ao jornal que se apressou a dar a notícia, só fez o costume, pensou de menos.
Este país começa a ser demasiado previsível.
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