24.4.12

A Escola Pública

Por Maria Filomena Mónica 
ACABAMOS sempre por voltar ao local do crime. Em 1977, terminei uma tese sobre a escola durante os primeiros anos do Salazarismo. Como me aconselhou o Prof. Sedas Nunes, deveria prosseguir o trabalho nesta disciplina. Por varias razões, decidi seguir outro rumo, o que não me impediu de, em diversas ocasiões, ter escrito sobre os problemas do ensino. Em Abril de 1974, imaginei que, através de uma boa rede de escolas públicas, Portugal poderia eliminar as desigualdades que, desde a infância, me haviam escandalizado. Até fiz um documentário, «Nados e Criados Desiguais». Depois, fui-me apercebendo que o sonho não era tão fácil de concretizar quanto pensara. 
 Tem-se falado muito nos gastos disparatados com a reconstrução de alguns liceus. Quando me sentei ao computador estava determinada a escrever sobre este tópico, mas, a meio, a minha bússola intelectual obrigou-me a mudar de rumo, levando-me a fazer uma revisão da matéria. Eis, em dez pontos, aquilo em que acredito: 
1- Não são tanto os edifícios que contam no sucesso escolar, mas os professores. Precisamos de ter, nas nossas escolas, indivíduos bem preparados, bem remunerados e sobretudo acarinhados pela comunidade. 
2- O envio de papelada para cima dos professores, que faz as delícias dos funcionários do Ministério, deve terminar, a fim de que aqueles possam ensinar em paz. 
3- Se a cultura pseudo-progressista transmitida nos cursos de Ciências de Educação continuar dominante, estaremos a formar indivíduos incapazes não só de ganhar o seu sustento mas de ter um mínimo de cultura geral. 
 4- Muito do que se passa na sala de aula depende das expectativas dos docentes. Se estes olharem os filhos dos pobres como candidatos a empregos subalternos nunca deles exigirão o suficiente para que possam sair do círculo de pobreza onde estão encerrados. 
5- Nos últimos trinta anos, sacrificámos a qualidade à quantidade, do que resultou uma redução no nível de exigência dos exames. Os «netos do Rousseau» devem ser afastados, logo que possível, do GAVE (gabinete que prepara os exames). 
6- Apesar de poderem ser um veículo de mobilidade social, as escolas têm como missão central transmitir o saber, pelo que não devem ser pensadas como uma máquina de engenharia social. 
7- À ex-Secretária de Estado Ana Benavente deve ser interdita a aproximação de qualquer escola pública. 
8- A melhor forma de ajudar os filhos dos pobres é através da elaboração de bons programas, que os ensinem a ler, a pensar e a saber exprimir-se. 
9- As crianças não são naturalmente boas. Carecem assim, por parte dos pais e dos professores, da imposição de uma certa disciplina. A concessão de demasiada liberdade leva-as a tornaram-se tiranetes. 
10- Podemos ter igualdade de resultados ou igualdade de oportunidades: não as duas. A primeira, defendida pelos esquerdistas, leva a que às crianças dotadas, provenientes de meios socialmente desfavorecidos, não lhes seja exigido tudo aquilo que podem dar. A coberto de uma ideologia bondosa, está a cometer-se um crime. 
«Expresso» de 21 Abr 12

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1 Comments:

Blogger José Batista said...

Dez pontos de extraordinária importância.
Sucintos.
Claros.
Frontais.

Sem reparo.
Com todo o (meu) aplauso.
E agradecimento.

24 de abril de 2012 às 22:45  

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