Cravos
Por João Paulo Guerra
HÁ 38 anos, o 25 de Abril foi o dia das surpresas, como tal profetizado num poema de José Saramago musicado e cantado por Manuel Freire.
E foi assim que, de então para cá, de surpresa em surpresa, os
portugueses se terão surpreendido agora ao verem os ministros do actual
Governo, de cravo vermelho ao peito, na enfadonha sessão do Parlamento
no dia 25.
Observando aquela cariofilácea bancada governamental, os portugueses
terão concluído que os cravos, como a democracia, andam com más
companhias por muito duvidosas lapelas. Um cravo pelos cortes e
congelamentos de salários? Outro cravo pelos cortes dos subsídios de
Natal e de férias? Mais um cravo pelos cortes nas reformas? E outro
cravo ainda pelo corte de outros subsídios sociais, como seja o abono de
família? Um ramo de cravos pela facilidade nos despedimentos, pelo
desemprego, pelo corte nos subsídios de desemprego? Cravos e mais cravos
pela liquidação do SNS e pela ruína da Segurança Social? Cravos pelo
aumento sem travão dos impostos? E ainda uma plantação de cravos pela
hipoteca da independência nacional e da soberania do povo?
Nada disso, a menos que à socapa o Fisco tenha penhorado o cravo, ou
que os cravos em exibição em São Bento sejam do jardim de frau Angela
Merkel ou do horto privativo de Nicholas Sarkozy, ou ainda de importação
dos países que já mandam mais em Portugal que as instituições e os
cidadãos portugueses. Mas o mais provável é que haja aqui um pequeno
equívoco semântico ou um pequeno lapso ortográfico.
Porque em verdade este não é um Governo de cravos mas uma companhia
de cravas, tantas e tais são as maneiras e vias que o Executivo
descobriu e aplicou para ir aos bolsos dos cidadãos.
«DE» de 27 Abr 12Etiquetas: JPG
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home