A Europa acaba na próxima terça
Por Ferreira Fernandes
LEMBRAM-SE da Europa? A da livre circulação, que começou por ser do
carvão e do aço, só para seis, e agora é para tudo e para 27? A dos 500
milhões de europeus que podem passear-se sem fronteiras? Vai acabar no
próximo dia 1 de maio.
Há pequeninas coisas estruturais que, mudando,
fazem o edifício cair. Suponham que um lisboeta, em Huelva, pede uma
dose de presunto de pata negra. "Usted es português, verdad?", e depois da confirmação, leva com a nega: "El jamón es para españoles!" Não pode ser? Pois é o quer vai suceder, mudando o que há para mudar, na Holanda, no fatídico dia 1. Quem entre num coffee shop
holandês e peça a especialidade da casa, começa por ter de se
identificar: cidadão nacional? Se for estrangeiro não tem direito a ser
servido. É verdade que as coffee shops de Amesterdão, ao
contrário do que o nome sugere, não vendem bicas. Lá, o aroma é mais de
erva, charros, haxixe. Até agora, casas de porta aberta (há mesmo uma
cadeia de lojas, a Kandinsky), onde qualquer cliente, logo que maior,
tem direito aos seus cinco gramas. Mas os tribunais decidiram: a partir
do 1.º de maio, o cliente tem de ser holandês.
A questão é: a Europa vai
engolir esta medida ou só inalar? Não está em causa o haxixe, mas o
princípio. Se os holandeses podem guardar só para si o melhor que têm,
por que razão não ficamos com a exclusividade da sericaia? E, por
maioria de razão, os croatas não proíbem as croatas de se casar com
outros europeus?
«D» de 28 Abr 12 Etiquetas: autor convidado, F.F
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