Liberdade
Por João Paulo Guerra
DE CADA vez que se celebra em Portugal a instauração da democracia ocorre-me um episódio, ocorrido às primeiras horas da manhã de 25 de Abril de 1974, no Terreiro do Paço, em Lisboa.
Foi quando um jornalista, já então sénior, perguntou a um jovem
capitão se podia citar os objetivos da operação militar em curso que o
oficial enunciava para o pessoal da chamada comunicação social. O jovem
capitão respondeu-lhe que era também para que ele e os outros
jornalistas pudessem escrever livremente o que bem entendiam e o que
testemunhavam que os militares ali estavam, dispostos a derrubar o
governo da censura e de outras coisas igualmente odiosas.
O capitão chamava-se Maia, Fernando José Salgueiro Maia, tinha 29
anos, e era naquela manhã a face mais visível da revolução em curso.
Tempos depois viemos a saber que o oficial era também um dos mais puros e
generosos dos capitães de Abril: naquele dia fez o que tinha a fazer,
depois regressou ao quartel, em Santarém, morreu 18 anos depois no posto
de tenente-coronel, sem honrarias nem benesses do Estado, após um
exílio nos Açores e de uma passagem pelo comando do Museu da Escola
Prática de Cavalaria. O poder político e a hierarquia não o queriam a
comandar tropas pois tornara-se suspeito de ter feito o 25 de Abril.
Mas a liberdade de imprensa ficou. E foi em liberdade que escrevi nos
últimos 15 anos no Diário Económico, como editor, grande repórter,
redator principal, comentador e autor das cerca de 2.700 crónicas da
Coluna Vertebral, 12 anos e sete meses de publicação ininterrupta, desde
Outubro de 1999. A Coluna Vertebral chegou agora ao fim. Não é o fim da
linha. Apenas a denúncia de um contrato por uma das partes. Liberdade
sempre.
«DE» de 30 Abr 12Etiquetas: JPG
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