4.5.12

O 'não' às vezes é demasiado fácil

Por Ferreira Fernandes
A JUNTA militar birmanesa, no poder há 50 anos, permitiu eleições para alguns lugares no Parlamento. As panelas de pressão foram inventadas sob o mesmo princípio, com uma válvula para deixar escapar um bocadinho de revolta. 
Em abril, Suu Kyi, a Nobel da Paz, e o seu partido ganharam a esmagadora maioria (43 de 45) dos lugares a votos. Ontem, vi uma foto do Parlamento com Suu Kyi, frágil, firme e bela, como nos habituámos a vê-la, nos intervalos em que nos permitiam vê-la, ao longo das suas duas décadas de prisão domiciliária. O pano de fundo da foto era composto por militares, deputados também, porque a junta reservara lugares não eleitos para os seus. Eles tinham cara amarrada, o que sublinhava a silhueta elegante de Suu Kye. Havia um problema: ela fizera campanha contra a constituição, escrita pela junta militar e muito limitativa nos direitos. Como poderia ela dizer que ia "proteger" a constituição, como a obrigava o juramento para ser deputada? Suu Kye tentara explicar o paradoxo ao presidente da junta, propôs até uma solução: diria "respeitar" a constituição, termo mais manso e ainda razoável. A junta foi definitiva: ou "proteger", ou nada. Então, Suu Kye foi dura como sabe ser quem tem, mesmo, uma meta a atingir: recuou e jurou proteger a constituição. 
A foto foi depois do juramento, a cara amarrada dos deputados dizia que tinham percebido. Suu Kye não é das que fazem finca-pé. É das que vencem.
«DN» de 4 Mai 12

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