Educação para a delação
Por Manuel António Pina
MAIS tarde ou mais cedo tinha que acontecer algo assim. Conta o
"Público" que uma escola do 1.º Ciclo pôs alunos (crianças entre os 6 e
os 10 anos) a fazer patrulhas durante as horas de recreio, com
instruções, acusam os pais dos alunos de uma turma do 4.º ano, como
"tomar nota do nome dos colegas que apresentam comportamentos
inadequados", nomes depois "colocados em local público para que toda a
comunidade escolar tenha conhecimento dos mesmos". E, pelo andar que as
coisas levam em Portugal, ainda vamos no princípio...
Fardadas com uma "t-shirt" com a inscrição "PSP", significando
"Patrulha de Segurança do Pontal", as crianças da escola do Pontal
(Portimão), duas por turma, são enquadradas por graduados, digo,
professores, devendo efectuar "rondas no recinto escolar nos horários
críticos da escola, valorizando sempre o diálogo".
Os pais
contestatários pensam antiquadamente que "as crianças têm como principal
função aprender, tendo direito a um intervalo para brincar; não têm de
'espiar' os colegas". Presume-se que a maioria, ciente da sociedade de
novo tipo hoje em construção, veja na educação para a delação dos seus
rebentos apenas a preparação destes para um paisano futuro profissional
brilhante a denunciar colegas de trabalho ou, se fardado, a espancar
manifestantes e jornalistas "valorizando sempre o diálogo".
«JN» de 7 Mai 12Etiquetas: MAP
1 Comments:
E talvez possam ser recrutados par uma hipotética nova Legião Portuguesa.
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