12.6.12

Eu não sou o lince da Malcata

Por Maria Filomena Mónica

SEGUINDO a inspiração de Bruxelas (a União Europeia quer ter 40% de mulheres nos lugares de topo, incluindo no sector privado), o Executivo de Passos Coelho deseja ver aplicadas nas empresas nacionais a discriminação positiva a favor das mulheres. Sei que Portugal ocupa um lugar vergonhoso: enquanto na Noruega e na Suécia, a percentagem de mulheres nos conselhos de administração é de, respectivamente, 36% e 23%, em Portugal, é de 0,4%.
Não é apenas a posição oficial sobre a composição dos conselhos de administração que me causa calafrios, mas o que acontece nas Universidades. A introdução recente de uma disciplina chamada «Estudo do Género» irrita-me. Reconheço que as mulheres pouco são mencionadas na História, mas as coisas  mudaram a partir do momento em que, no século XVIII, uma mulher, Mary Wollstonecraft, publicou um livro defendendo os direitos femininos.
Antes que alguém se lembre de afirmar que sou um homem de saias, relembro que estou consciente da discriminação a que, ao longo da vida, fui sujeita. Quando nasci, em 1943, a vida política em Portugal pertencia aos homens. Se possível, o que se passava na sociedade era pior. Aos vinte anos, na sacristia da capela da condessa de Cuba, não só declarei obediência ao meu futuro marido, como assinei o livro da Conservatória com o seu apelido. Subitamente, passei de uma jovem sujeita ao poder paternal para a serva de um cônjuge. Segundo a lei vigente, não podia ter conta bancária própria nem exercer uma profissão sem a sua autorização. Dito isto, considero que há muitas formas de se lutar contra as ideias expostas por Manuel Monteiro de Castro (recentemente elevado a cardeal pelo Vaticano) sem ter de aceitar o papel de um animal em vias de extinção.
 Dentro dos movimentos sufragistas, sempre houve diferenças. Há dias, li um texto, escrito por uma americana, Elizabeth Cady Stanton, que suponho desconhecido em Portugal (está acessível na Internet), com o qual estou inteiramente de acordo. Eis o que, a 18 de Janeiro de 1892, declarou, num discurso intitulado The Solitude of Self , lido diante do Comité Judiciário do Congresso dos EUA. Usando a imagem do navegador solitário durante uma tempestade, argumentava que, para o efeito, tanto fazia ser-se homem ou mulher: «A Natureza, tendo-os dotado a ambos das mesmas qualidades, deixa-os usar as suas competências e o seu juízo na hora do perigo; se não estiverem à altura serão igualmente aniquilados». Esta visão é rejeitada por grande parte da esquerda que prefere filiar-se no pensamento politicamente correcto. Olhem, por exemplo, o retrato do novo Presidente da Republica francês, que se fez fotografar rodeado de dezassete ministras femininas, um número idêntico ao dos homens, sem perceber que esta forma de selecção é, ela própria, machista. A nossa luta deve ser feita com base no mérito, não no facto de possuirmos um útero. 
«Expresso» de 9 Jun 12                      

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5 Comments:

Blogger Unknown said...

Tivemos o azar de não jogar nada até sofrermos o golo.
Na primeira parte estivemos a ver os alemães a jogar, que até jogaram bastante mal, passes errados para a área de Portugal, péssima finalização, caso contrário tínhamos sido goleados. Pepe rematou quase bem e Suíça 5 – Alemanha 3.
Só começamos a jogar quando sofremos o golo, mas já não havia tempo. A pergunta que se coloca é esta. Por quais razões não começamos a jogar logo no início do jogo, como a Suíça, que lhes ganhou por 5-3?
Amanhã temos a Dinamarca.
É interessante o blog.
O excelentíssimo António Borges quer que os salários de fome passem a ser salários de muita fome. Mas ele ganha um salário muito interessante e é mais um «moralista», ontem fartou-se de pregar a sua moral para os outros, mas que não usa para si próprio, na RTP1, depois da 22.30.
O LAZER É ÓPTIMO, O PIOR É QUANDO FALTA O SUBSÍDIO DE FÉRIAS.
Um programa recente da SIC Notícias disse mentiras sobre o caso «Equador», que tem frases inteiras copiadas de «Cette nuit la liberté».
MST é um «moralista» anti-Esquerda.
É sempre bom conhecer melhor um «moralista».
A Censura anda muito activa nos comentários dos blogs. Espero que deixe passar este comentário.
Em www.anticolonial21.blogspot.com está a verdade inconveniente sobre a cópia de partes de «Cette nuit la liberté» por Miguel Sousa Tavares para o livro «Equador».

12 de junho de 2012 às 15:27  
Blogger José Batista said...

Também a mim, esta coisa das quotas, me parece uma desconsideração a qualquer cidadão e em especial às mulheres.
A proteção legal tem que fazer-se aos cidadãos, independentemente de quem sejam e do sexo que apresentem.
Quando me casei não me passou pela cabeça nem à minha mulher que ela acrescentasse o nome com algum dos meus. Eu já tinha nome e ela também. Se eu não precisava nem queria acrescentá-lo, para que havia ela de fazê-lo? Mas isto só nos ocorreu quando o funcionário do registo no-lo perguntou. E lembro-me que alguns familiares ficaram algo admirados, mas ninguém comentou. Ora, isto foi há duas décadas e meia, sensivelmente. Agora admito que seja bastante diferente...

12 de junho de 2012 às 21:05  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Caro José Freitas,

Afixou este mesmo texto n' «O Carmo e a Trindade».
Também lá, não teve em conta que, num blogue, o espaço de comentários se destina a comentar os textos publicados, pelo que não é de estranhar que algum 'webmaster' mais zeloso apague os que não cumprem esse requisito.
Isso não tem nada a ver com 'censura', mas sim com a lógica de funcionamento de qualquer publicação.

13 de junho de 2012 às 10:24  
Blogger SLGS said...

Doutora Filomena Mónica, pela sua personalidade e vaidade implícitas, eu sou daqueles que "não vou à bola" com a senhora. Desta vez, no entanto, não deixo de lhe dar razão. Casei em 1966, somos da mesma peara,e a minha mulher não tem o meu apelido. Assim o entendemos na altura e, até hoje, não nos arrependemos.
Depois de todo este arrazoado, não posso deixar de trazer à baila: "...fotografar rodeado de dezassete ministras femininas..." .
Muito estranharia se fossem ministras masculinas, mas enfim, nos dias de hoje...quem se admiraria?...

13 de junho de 2012 às 15:34  
Blogger Laura Cachupa Ferreira said...

EXTRAORDINÁRIO!!!
Pela primeira vez, que eu me lembre, uma crónica da Mónica sem referencias à estadia em Inglaterra e à universidade de Oxford.
Em português corrente, sem largar postas de pescada.

13 de junho de 2012 às 20:21  

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