Homenagem a um homem feio
Por Ferreira Fernandes
NOS ÓSCARES de 1955 ganharam os atores Anna Magnani (no filme Rosa Tatuada)
e Ernest Borgnine (Marty). A noite sublinhava com eles esta
coincidência: ambos tinham daquelas caras que entram numa discoteca e
ninguém olha. Peguemos no caso mais flagrante de Borgnine, cujo
adversário era James Dean com ar ainda mais de anjo por ser o primeiro
ator a concorrer a título póstumo. Depois, Ernest Borgnine, bochechas
largas, dentes da frente separados, cara de homem do talho (e era esse o
seu papel em Marty), recebeu o Óscar das mãos da beleza etérea em
vésperas de ser princesa, Grace Kelly.
Naquela noite, a Quinta da
Marinha homenageou o Seixal. Marty, o único a ganhar o Óscar de melhor
filme e a Palma de Ouro de Cannes, conta a história de um homem simples:
"Eu procurei uma rapariga todos os sábados à noite da minha vida."
Ernest "Marty" Borgnine encontrou-a e disse-lhe: "Sabes, os feios como
nós não somos tão feios como pensamos."
No ano seguinte, a televisão
americana, num programa trafulha de conhecimentos (Twenty One, na NBC),
obrigou o candidato feio e de bairro pobre, o Bronx, a perder para o
candidato rico, louro e professor universitário com esta pergunta: "Que
filme ganhou o Óscar em 1955?" O pobre sabia, mas, como combinado, fez
que se enganou (o filme Quiz Show, de 1994, recorda o episódio). Como se
Marty devesse ser apagado.
Anteontem, Ernest Borgnine morreu, aos 95
anos. Mas andará sempre por aí.
«DN» de 10 Jul 12 Etiquetas: autor convidado, F.F
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home