10.7.12

Homenagem a um homem feio

Por Ferreira Fernandes
NOS ÓSCARES de 1955 ganharam os atores Anna Magnani (no filme Rosa Tatuada) e Ernest Borgnine (Marty). A noite sublinhava com eles esta coincidência: ambos tinham daquelas caras que entram numa discoteca e ninguém olha. Peguemos no caso mais flagrante de Borgnine, cujo adversário era James Dean com ar ainda mais de anjo por ser o primeiro ator a concorrer a título póstumo. Depois, Ernest Borgnine, bochechas largas, dentes da frente separados, cara de homem do talho (e era esse o seu papel em Marty), recebeu o Óscar das mãos da beleza etérea em vésperas de ser princesa, Grace Kelly. 
Naquela noite, a Quinta da Marinha homenageou o Seixal. Marty, o único a ganhar o Óscar de melhor filme e a Palma de Ouro de Cannes, conta a história de um homem simples: "Eu procurei uma rapariga todos os sábados à noite da minha vida." Ernest "Marty" Borgnine encontrou-a e disse-lhe: "Sabes, os feios como nós não somos tão feios como pensamos." 
No ano seguinte, a televisão americana, num programa trafulha de conhecimentos (Twenty One, na NBC), obrigou o candidato feio e de bairro pobre, o Bronx, a perder para o candidato rico, louro e professor universitário com esta pergunta: "Que filme ganhou o Óscar em 1955?" O pobre sabia, mas, como combinado, fez que se enganou (o filme Quiz Show, de 1994, recorda o episódio). Como se Marty devesse ser apagado. 
Anteontem, Ernest Borgnine morreu, aos 95 anos. Mas andará sempre por aí. 
«DN» de 10 Jul 12

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