9.7.12

Não há ninguém com um só defeito?

Por Ferreira Fernandes 
HÁ UM texto de Freud explicando como muitos "nãos" enfraquecem uma negação. 
Acusado de ter partido uma chaleira emprestada, alguém respondeu assim: 
1) não lhe emprestaram chaleira alguma; 
2) a chaleira já fora devolvida; e 
3) quando lha emprestaram já vinha partida... 
Vivemos um pouco com esse exagero, só que, em vez de defesas, de acusações. Mas com o mesmo efeito: a avalanche de argumentos só serve para os diminuir. 
De cada vez que um personagem público é acusado de alguma coisa, ainda estamos a saborear as culpas e já atolam o homem com outras culpas para o cadastro. Num dia era a hipótese de Duarte Lima matar uma velhota e, ainda se via o fumo a sair da pistola, já o homem estava em prisão domiciliária... por causa de uma burla com um banco manhoso. Depois, foi Miguel Relvas, um dia a falar grosso para um jornal e, no dia seguinte, a tirar cursos com a rapidez, e consistência, de gelatina. 
Admito que os portugueses que são desenrascas para o bem, também sejam toca a tudo para o mal, mas não podíamos parar numa culpa, assimilá-la e, só então, passar para outra? Macário Correia é apanhado em coisa sobre Tavira, salta-se para as suas reformas e já se vai em coisas sobre Faro. Amanhã, se calhar Macário até fuma. 
Famoso fisgado em Portugal tem para estrebuchar durante meses. Depois, quase sempre, nada. O problema, como explicou o inspetor Freud, é que demasiadas acusações arrefecem as culpas.
 «DN» de 9 Jul 12

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