Tempos modernos
Por Ferreira Fernandes
NOTÍCIA dos nossos dias, no El Mundo,
sobre Humilladero, vila andaluza perto de Málaga. O jornal não diz, mas
em castelhano antigo "humilladero" era o lugar onde os camponeses eram
julgados pela caça furtiva nas terras do senhor. Frente ao cruzeiro, o
homem ouvia o castigo, de joelhos, humilhado.
Em 1930, na Andaluzia,
diz El Mundo, três por cento dos proprietários controlavam 48 por
cento das terras. Também por causa dessa desproporção, aconteceu uma
guerra civil, veio o franquismo e, finalmente, a democracia.
Em 2012, na
Andaluzia, os tais três por cento (ou filhos deles) controlam... 55 por
cento das terras. Hoje, um em três dos habitantes de Humilladero não
tem emprego. Mas isso são estatísticas. Vamos à carne e ao grito:
"Saiu-nos a nós, Maria, saiu-nos a nós!", diz El Mundo que
Antonio Ruiz disse à irmã, por estes dias. Parecia que lhes tinha saído o
Euromilhões ou El Gordo, mas não. Era lotaria, mas de emprego. Há
meses, à câmara de Humilladero vinha uma pessoa por dia pedir ajuda;
agora, vêm oito por dia. A câmara decidiu remediar, dá empregos por um
mês e a 600 euros. Com esta bizarria: como são 300 pedidos por um posto,
faz-se uma tômbola no salão da câmara. Foi isso que ganharam António e
Maria, saiu-lhes na rifa emprego efémero de jardineiro e de trolha. A
"alcadesa", que faz o que pode, chama-se Noelia Rodríguez Casino. Não me
apetece fazer ironia com o nome, tenho a foto dos dois irmãos
olhando-me a quatro colunas.
«DN» de 20 Jul 12 Etiquetas: autor convidado, F.F
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