20.7.12

Tempos modernos

Por Ferreira Fernandes
NOTÍCIA dos nossos dias, no El Mundo, sobre Humilladero, vila andaluza perto de Málaga. O jornal não diz, mas em castelhano antigo "humilladero" era o lugar onde os camponeses eram julgados pela caça furtiva nas terras do senhor. Frente ao cruzeiro, o homem ouvia o castigo, de joelhos, humilhado. 
Em 1930, na Andaluzia, diz El Mundo, três por cento dos proprietários controlavam 48 por cento das terras. Também por causa dessa desproporção, aconteceu uma guerra civil, veio o franquismo e, finalmente, a democracia. 
Em 2012, na Andaluzia, os tais três por cento (ou filhos deles) controlam... 55 por cento das terras. Hoje, um em três dos habitantes de Humilladero não tem emprego. Mas isso são estatísticas. Vamos à carne e ao grito: "Saiu-nos a nós, Maria, saiu-nos a nós!", diz El Mundo que Antonio Ruiz disse à irmã, por estes dias. Parecia que lhes tinha saído o Euromilhões ou El Gordo, mas não. Era lotaria, mas de emprego. Há meses, à câmara de Humilladero vinha uma pessoa por dia pedir ajuda; agora, vêm oito por dia. A câmara decidiu remediar, dá empregos por um mês e a 600 euros. Com esta bizarria: como são 300 pedidos por um posto, faz-se uma tômbola no salão da câmara. Foi isso que ganharam António e Maria, saiu-lhes na rifa emprego efémero de jardineiro e de trolha. A "alcadesa", que faz o que pode, chama-se Noelia Rodríguez Casino. Não me apetece fazer ironia com o nome, tenho a foto dos dois irmãos olhando-me a quatro colunas. 
«DN» de 20 Jul 12

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