Uma jornada de rapazes malucos
Por Ferreira Fernandes
ONTEM, pela manhã, vinha uma mulher de cabelos ao vento correndo por
uma rua de Gravesend, Inglaterra. Anna Skora, de 23 anos, era de Lublin,
no leste da Polónia. Gravesend, que na Guerra dos Cem Anos foi saqueada
por uma esquadra castelhana e na II Guerra Mundial bombardeada pela
Luftwaffe, ontem era um lugar de amizade entre os povos. A tocha
olímpica que Anna segurava celebrava esse conceito bom - e estranho, de
tão recente. Foi então que saltou do passeio, cheio de gente a aplaudir,
um jovem que gritava: "Alá é grande!" Ele quis agarrar a tocha, mas foi
manietado pelos guardas que protegiam Anna e deitado com as trombas
para o asfalto. Pouparam-no de ver que a mulher de cabelos ao vento e
sorriso descoberto nem se assustou e prosseguiu a corrida, orgulhosa por
ter vindo de tão longe e sentir-se entre os seus.
Horas antes, em
Denver, nos Estados Unidos, num cinema que estreava o novo filme de
Batman, um rapaz mascarado de Bane, um dos personagens maus, começou a
atirar balas reais e a atingir gente real - 12 mortos e mais de 50
feridos.
A questão é: quem, dos dois rapazes, mais depressa cairá na
realidade? O maluco de Denver, dando-se conta de que o seu vilão só
devia ser de filme e de banda desenhada? Ou o de Gravesend,
convencendo-se de que o seu Alá que nem consegue deter a corrida de uma
mulher de cabelos ao vento e sorriso descoberto não é tão grande como
isso?
«DN» de 21 Jul 12 Etiquetas: autor convidado, F.F
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