Enfim, uma história simples
Por Ferreira Fernandes
ANTIGAMENTE as histórias eram simples, a filha do faraó ia lavar-se ao
rio e recolhia um bebé que vogava num cestinho de vime. A princesa dava-lhe o nome de Moisés, o "salvo das águas", e a vida ia por aí fora,
simples: Moisés falava com Deus, sabia abrir as águas do mar e assim.
Agora, as coisas tornaram-se demasiado complexas. Guerras tecnológicas,
crises inexplicáveis, líderes perdidos... Já não estamos preparados para
um rapazito de dois anos e meio a perder-se na horta. Aliás, quase não
há mais hortas. Mas, em havendo, as coisas voltam a ser simples.
Leidson
estava com a mãe (cara talhada como Nefertiti, não sei como ninguém viu
um sinal nisso) que trabalhava numa horta (São João da Talha é nas
margens do Tejo, outro rio, outro sinal). Os sinais apontavam todos para
uma história simples: o travesso apanhou a mãe distraída e desapareceu.
Aí, reagimos todos com a complicação moderna: rapto, buscas com cães,
Unidade de Contra-Terrorismo...
Passaram duas noites e, afogados nos
nossos densos mistérios, não soubemos encontrar o Leidson. Ora ele
estava, onde mais podia estar?, debaixo de um feijoeiro, na horta.
Depois de tanto tempo, os jornais voltaram ao que é uma boa, honesta e
simples história.
Uma leitora, simples, do DN online, teve uma epifania:
"Já ganhei o dia", escreveu quando soube. Outro, irremediavelmente
complicado, escreveu: "Leidson é nome?" É, etimologicamente quer dizer
"encontrado debaixo de um feijoeiro".
«DN» de22 Ago 12
1 Comments:
Mentira!, o rapaz chama-se assim porque sua mãe tem o nome de Leid(e?) e, logo, ele é filho de Leid(e), como é fácil de inferir, e não como apregoado pelo articulista, ainda que com boas intenções, reconheço. A horta com os feijões nada tem a ver com a criança perdida durante não sei quanto tempo, que nem os cães pisteiros encontraram. Mas reconheço, também, que há aqui um grande mistério. Provavelmente, o miúdo não é filho da Leid(e), mera barriga de aluguer, mas sim de Iemananjá. Será?
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