21.8.12

Dito & Feito

Por José António Lima
SERÁ verdade, como indiciam algumas notícias, que Francisco Louçã se prepara para abandonar, com apenas 55 anos, a liderança do Bloco de Esquerda? E, a ser verdade, quem será o Carvalhas de Louçã, o seu designado sucessor?
As perguntas, podendo parecer provocatórias, fazem todo o sentido. Os pequenos partidos da extrema-esquerda, do PSR à UDP, que estão na génese do Bloco, sempre foram derivações do PCP. Menos conservadores nos costumes do que os velhos comunistas, de mentalidade mais aberta à mudança e aos fenómenos da modernidade (daí as causas fracturantes como bandeiras políticas), mas com um espírito de grupo, quase de seita, mais acentuado e radical do que o PCP. Também a idiossincrasia dos seus líderes e a sua tradicional longevidade nos cargos apresentam evidentes afinidades entre Álvaro Cunhal e Francisco Louçã.
Cunhal esteve oficialmente 31 anos como secretário-geral do PCP, de 1961 a 1992. Louçã é dirigente máximo da esquerda radical há 34 anos, no PSR de 1978 a 1999 e no BE nos últimos 13 anos. Pode dizer-se que Cunhal já era o líder de facto do PCP desde os anos 40, mas também Louçã já dirigia a LCI, antecessora do PSR, desde 1973.
A grande diferença é que Cunhal só abriu mão da liderança aos 78 anos, no bom estilo dos dirigentes soviéticos e da tradição dos partidos marxistas. Deixando como sucessor uma figura apagada e sem carisma político como era Carlos Carvalhas. Ora Louçã tem apenas 55 anos. E não se vê no BE uma figura com uma dimensão política aproximada para lhe suceder. João Semedo é uma espécie de Carvalhas, simpático mas apagado, além de ser cinco anos mais velho, contrariando a renovação partidária geracional. E a hipótese de uma liderança bicéfala ou tricéfala no Bloco é obviamente suicida.
Por outro lado, o que irá ocupar Louçã, que sempre fez das lideranças políticas a principal motivação da sua vida, nos próximos 20 ou 30 anos? Reforma-se? Ou estará a pensar, como Durão Barroso, num cargo internacional de liderança? Encabeçando, por exemplo, com o seu camarada Alexis Tsypras, uma frente popular sul-europeia anti-troika e anti-Merkel?
"Sol"

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