18.8.12

Mbuysa Makhubu

Por Ferreira Fernandes  
OLÁ, Mbuysa Makhubu, onde quer que estejas. A tua foto pertence à minha vida. Eu era jovem, tu, adolescente e os nossos países apanhados pelos ventos da história. Vestias uma jardineira de pobre, trazias um garoto ensanguentado nos braços e ao vosso lado corria uma menina em pânico. Minutos antes não os conhecias. Ela era Antoinette, irmãzita do ferido, e este, Hector Pieterson, 12 anos, abandonava-se em ti como Cristo nos braços da mãe, anunciando a sua morte. E tu eras, mais do que o combate que eu pensava então, eras a pietà, a generosidade. 
16 de junho de 1976, arredores de Joanesburgo, o Massacre do Soweto, 23 mortos. O mundo era então a preto e branco. Mas, mais tarde, no teu bairro, vi um mármore com as palavras da tua mãe: "Mbuysa pegou no Hector não por heroísmo, mas como um ato de irmão." Depois de seres ícone, desapareceste, nunca mais ninguém soube de ti, nem a tua mãe. Hoje, eu queria saber. 
Depois da foto, o teu país mudou muito e mudou tão pouco. Anteontem, a polícia sul-africana atirou e matou 34 homens. Antigamente eram tão fáceis as coisas, eram a preto e branco. E hoje? Hoje, gostaria de te encontrar para to dizer, tudo muda muito e muda tão pouco, mas restas tu. 
Um dos jovens dirigentes do ANC nos dias do Soweto, Cyril Ramaphosa, é agora um dos administradores das minas que os polícias defendiam. E tu és aquele que dá a mão, ergue o ferido e depois desaparece. Tu, desaparecido, és aquele que fica.
«DN» de 18 Ago 12

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