26.9.12

O que é para nós a Espanha amputada?

Por Ferreira Fernandes
ELA É TAL a sucessão de crises que nem damos por esse facto enorme e de consequências incalculáveis que vai aqui ao lado. Na verdade, não damos nós nem a editora do telejornal da noite da TVE, a emissora estatal espanhola, que no passado dia 11, da manifestação gigantesca em Barcelona pedindo a independência catalã, remeteu a notícia para o minuto 20. E, no entanto, é terramoto que continua a abanar Espanha: ontem, anteciparam-se as eleições autonómicas para 25 de novembro, a meio do mandato do parlamento catalão, e pela primeira vez um presidente da Generalitat, Artur Mas, apelou à independência. 
A pouca importância que a TVE deu à manifestação seria irrelevante não fosse sinal do grande temor de Madrid. A Catalunha querer ser independente, chegar a uma meta quando os outros estados europeus estão a sair dela (não estamos todos cada vez menos independentes?), até é comovente. 
Como negar a uma adolescente a sua primeira viagem interRail? E nem vale a pena preveni-la contra doenças contagiosas, ela já apanhou a mais grave: está a desfazer-se de uma das três ou quatro maiores línguas do futuro para se aninhar no seu mirandês pátrio (as universidades de Barcelona só vão ganhar com isso, não é?). 
Coesa e cheia de si a Catalunha nem sabe o que perde, está noutra. O problema é Espanha, a amputada. Essa sabe o que perde. E nós, sabemos o que isso nos significa? O raio da dívida e do défice não nos deixam pensar em mais nada. 
«DN» de 26 Set 12

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