O que é para nós a Espanha amputada?
Por Ferreira Fernandes
ELA É TAL a sucessão de crises que nem damos por esse facto enorme e de
consequências incalculáveis que vai aqui ao lado. Na verdade, não damos
nós nem a editora do telejornal da noite da TVE, a emissora estatal
espanhola, que no passado dia 11, da manifestação gigantesca em
Barcelona pedindo a independência catalã, remeteu a notícia para o
minuto 20. E, no entanto, é terramoto que continua a abanar Espanha:
ontem, anteciparam-se as eleições autonómicas para 25 de novembro, a
meio do mandato do parlamento catalão, e pela primeira vez um presidente
da Generalitat, Artur Mas, apelou à independência.
A pouca importância
que a TVE deu à manifestação seria irrelevante não fosse sinal do grande
temor de Madrid. A Catalunha querer ser independente, chegar a uma meta
quando os outros estados europeus estão a sair dela (não estamos todos
cada vez menos independentes?), até é comovente.
Como negar a uma
adolescente a sua primeira viagem interRail? E nem vale a pena
preveni-la contra doenças contagiosas, ela já apanhou a mais grave: está
a desfazer-se de uma das três ou quatro maiores línguas do futuro para
se aninhar no seu mirandês pátrio (as universidades de Barcelona só vão
ganhar com isso, não é?).
Coesa e cheia de si a Catalunha nem sabe o que
perde, está noutra. O problema é Espanha, a amputada. Essa sabe o que
perde. E nós, sabemos o que isso nos significa? O raio da dívida e do
défice não nos deixam pensar em mais nada.
«DN» de 26 Set 12 Etiquetas: autor convidado, F.F
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