Uma semana cheia de ironias
PRIMEIRO,
foi Mitt Romney a dizer que convinha que as janelas dos aviões fossem
de abrir e fechar. Ele sorria mas, que importa, ele era americano e
republicano, logo, burro. Gozaram-no. Valeu-lhe o New York Times vir
dizer o óbvio: o homem ironizava.
Logo a seguir, foi Madonna a dizer que
apoiava Obama "negro e muçulmano." A própria logo a seguir teve de
dizer, porque o escândalo já despontava, que com "muçulmano" ironizava.
O
mundo esta semana descobriu que os americanos ironizam. É um pouco
tarde descobrir isso 102 anos depois de Mark Twain ter morrido. E é
injusto descobrir-se ironia nos americanos só quando eles a praticam
fracota, como nos dois exemplos acima. São duas ironias pequenas mas um
grande passo para a Europa: aprendeu a não menosprezar os americanos.
Quem usa ironia a torto e a direito, e mesmo só a torto, não pode ser
burro. Ironia é um falar que conta com a inteligência dos outros.
Exemplo de ironia: "A excelente dona Inácia era mestra na arte de judiar
as crianças", frase de Monteiro Lobato (1882-1948), mestre brasileiro
que pôs os miúdo a gostar de ler (O Picapau Amarelo é dele). Às vezes
ele escrevia sério, por exemplo: "O corpo de Negrinha era tatuado de
sinais, cicatrizes, vergões", do conto Negrinha, onde denunciava o que
os negros sofriam. Agora, há quem queira proibir o conto nas escolas
brasileiras porque "o negro não pode ser visto como eterno escravizado."
Olhem, outra ironia.
«DN» de 27 Set 12 Etiquetas: autor convidado, F.F
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