A rainha Christine vai nua
GASTAVA-SE
demais. O FMI deu a solução: gastar menos. E explicou-a: gastando
menos, a economia caía (até eu percebi: menos investimento, logo menos
obras, menos emprego...), mas era poupança que levava a o relançamento
(também compreendi: se o Estado emagrece, então precisa de menos
impostos, e a economia, como Fénix renascida, logo dançaria com ramos de
margaridas).
A explicação não foi tão poética, mas foi assim que a
ouvimos. O problema é que a Christine Lagarde não é dada a rimas, ela é
mais números. Tivesse ela aproveitado a nossa ânsia de música, ainda
continuávamos alegremente iludidos. Mas a francesa de perfil seco sacou
da calculadora: "Por cada euro de austeridade, a economia cairia 0,50
euros", decretou.
O resto da humanidade olhou para a fórmula como um boi
para um palácio, fingiu que percebeu e sorriu porque a Lagarde também
sorria quando enunciou a fórmula. Um euro de poupado e só meio euro de
queda, parecia boa e prometedora aquela relação...
Ora, agora, ficámos a
saber que por cada euro de austeridade, afinal, a economia cai entre
0,9 e 1,7 euros. Mesmo tansos como nós sabem calcular o tamanho do
engano: o FMI errou do dobro ao triplo!
Mais uma vez ficou demonstrada a
vantagem da poesia. Tivesse o FMI ido por ela, ainda hoje podia
continuar a iludir-nos, dizendo que o engano era pouco, em vez de ramos
de margaridas eram de crisântemos... Mas como insistiu nos números,
tramou-se.
São uns sábios da treta.
«DN» de 12 Out 12 Etiquetas: autor convidado, F.F
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