11.10.12

Crónica negra

Por Ferreira Fernandes
SORTE a de Almeida Garret que pôde contar uma história de desespero ao ar livre. As notícias eram terríveis, já se deitava sola de molho para o outro dia jantar, mas na Nau Catrineta mandava-se o marujinho ao mastro real para tentar ver a praia. 
O nosso problema é que somos um ex-país de marinheiros e um atual país rodoviário. Em vez do mar, um túnel escuro, onde se não são os impostos são os despedimentos; se é mau vender a TAP, ainda é pior, ninguém a quer; se a concessão da ANA pode tapar um buraco, avisam-nos que a ANA está proibida de tapar o buraco... 
Que mais nos vai acontecer? Não há gageiro a mandar acima, acima, ao tope real. Ver o quê, enxergar o quê, se a nossa história agora é num túnel, todo ele - e sobretudo lá ao fundo - apagado? Houve um momento em que pensámos que o problema era só nosso. Era uma boa notícia, se era só nosso, bastava fazer como os outros... Foi quando soubemos que o apagão era generalizado. Então, no túnel começámos a recear, até, que surgisse uma luz: podia ser a de um fósforo a incendiar as terras vizinhas... 
Ontem, dei comigo a preocupar-me por Espanha, que tenta qualificar-se para o Mundial, não ter o jogo de sexta-feira transmitido pela televisão, por não haver dinheiro. O não ter dinheiro já de si era mau, confirma o estado de tanga geral. Mas a não transmissão revelava mais: Espanha já abdica da sua mais segura bandeira de unidade, a seleção campeã mundial. O túnel está preto.
«DN» de 11 Out 12

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