19.10.12

As Capas da Cebola

Por Joaquim Letria
A HISTÓRIA organiza-se em camadas, como se fosse uma cebola. Toda a gente tem uma camada de que gosta mais. Os informáticos pensam em bits, os desportistas em segundos, os cães e os brokers em minutos, as mulheres em dias, os políticos profissionais em anos, as famílias em décadas, os políticos sérios e de vocação em séculos, os cientistas em milénios.
Se aplicarmos a nossa energia sobre essa cebola, podemos livrar-nos do nosso nefasto destino. Mas é preciso aplicar muita energia. Quanta mais, melhor, e muito concentrada sobre a capa que preferirmos, porque a energia tende a dispersar-se.
Nesta cebola, de tão fina e delicada, cada capa afecta a seguinte, pelo que a maneira mais prática de mudar o futuro é concentrarmos toda a nossa energia, todo o nosso esforço, na capa que está no centro: o presente, agora!
Além da cebola do tempo, há a cebola do espaço. Também aqui podemos escolher onde exercer a nossa energia. Podemos pensar em indivíduos, famílias, bairros, cidades, nações, continentes, planetas.
Daqui a uns quantos milénios o degelo poderá acabar com a civilização. Mas dentro de alguns séculos esgotar-se-ão o petróleo e o urânio, haverá guerras nucleares, biológicas, climatológicas, fome, frio e sede, de água mas também de justiça e de vingança, haverá trágicos êxodos, horríveis matanças.
Porém, nada disto nos impressiona tanto como a realidade mais próxima: nas próximas horas mais umas centenas de portugueses vão ficar sem emprego, outras centenas ficarão sem casa e milhares de pessoas como estes nossos compatriotas terão o mesmo destino no sul da Europa. O passo seguinte será preocupar-nos só connosco e com aquilo que nos possa suceder…
NOTA (CMR): estas crónicas de JL, embora escritas propositadamente para o Sorumbático, podem também ser lidas no seu blogue A Mosca Varejeira - [aqui].

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