18.10.12

Sobre a educação pós-25 de Abril (*)

Por Guilherme Valente
«Senhor Professor António Brotas:
MUITO obrigado pela atenção que deu ao meu texto a que o Expresso entendeu dar uma visibilidade a que eu, aliás, não me atrevera a aspirar, por se tratar de uma resposta, naturalmente sintética, a carta de outro Amigo, que igualmente estimo. Muito obrigado  também pela atenção comigo que a sua carta manifesta.
Gostava, no meu livro, que lesse um texto intitulado "Sottomayor Cardia, pioneiro do anti-eduquês". Se o ler,  verificará que a generalização que faço com a expressão  "a educação depois do 25 Abril" refere-se ao domínio do ME pela ideologia e pelas teorias pedagógicas irracionalistas que designamos com o termo eduquês e à devastação que o seu instalado domínio e progressiva imposição totalitária à escola, nomeadamente à formação de professores, determinaram. Mas, como talvez possa concordar, até poderia alargar essa minha expressão a mais  manifestações do que aquela a que me tenho referido e quis referir na minha carta  ocorridas na sequência do nosso 25 de Abril, do 25 de Abril que, pelo menos a mim, me roubaram. Julguei, erradamente, reconheço, que se percebesse, e quem me costuma ler terá, seguramente, percebido.
Quanto à minha ignorância, que é de facto enorme, não era preciso ser menor para eu ter consciência da hecatombe educativa (até me custa usar o termo, educativa...), que é mais do que visível e está objectivamente documentada em vários registos. Bastou-me, para a ter visto e ver, querer ser um homem livre. E quero, e sempre quis. Nem foi mesmo preciso a alguma familiaridade, que tenho a obrigação de ter, com a história, a ciência política e até a sociologia (a que, confesso, acho pouca graça) e, sobretudo, com a filosofia, para  lhe ter vislumbrado a etiologia, percebido os propósitos, compreender as razões do seu êxito, gerais, no Ocidente, e específicas entre nós.
Claro que depois do 25 de Abril houve coisas boas na educação, e não terei qualquer hesitação em atribuir ao Senhor Professor  António Brotas boas realizações, ou, pelo menos, bons propósitos, quando exerceu as funções de Secretário de Estado de um dos governos  de Portugal. Mas onde estão hoje essas coisas boas ou propósitos? O que lhes aconteceu? Essa é a questão.
Cumprimento-o com muita admiração, admiração também por eu saber, ou supor, que o Senhor Professor tentou enfrentar dentro do seu Partido a praga que eu tenho enfrentado fora dele. Praga que, estou convencido, não será vencida e virá, em breve, pelo contrário, a manifestar-se reforçada. Sabe porquê? Porque ela é instrumento e, ao mesmo tempo, já manifestação do interregno de barbárie que aí vem ou já aí está.
O seu amigo ao dispor,
Guilherme Valente»
(*) - Troca de cartas entre António Brotas e Guilherme Valente, a propósito de "Os Anos Devastasdores do Eduquês" saído no blogue "Educação do meu Umbigo" – A carta de António Brotas pode ser lida [aqui].

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