«Dito & Feito»
Por José António Lima
HÁ UM EQUÍVOCO que se criou desde a desastrada e já célebre comunicação
de Passos Coelho aos portugueses em 7 de Setembro: é que com ou sem
alterações na TSU haveria, cumulativamente, uma enorme e suplementar
subida de impostos através das alterações dos escalões do IRS e da
antecipação das novas tabelas do IMI.
Passos omitiu, então, esse
segundo choque fiscal que já estava a ser ultimado pelo ministro Vítor
Gaspar. Na verdade, o que veio, na prática, substituir o falhado aumento
de 7% da TSU dos trabalhadores foi a sobretaxa de 4% sobre os
vencimentos, tanto do sector privado como do sector público (além do
corte, nunca questionado, de um subsídio aos funcionários públicos e
pensionistas). E à sobretaxa acresce uma segunda e violenta subida da
carga fiscal por via das mexidas nos escalões do IRS.
Passos e
Vítor Gaspar recuaram primeiro no disparate social da TSU. Agora – e, ao
que parece, graças à insistência de Paulo Portas e alguns outros
ministros –, fizeram marcha-atrás no desvario social que seria a subida
explosiva do IMI em 2013. Só se pode concluir que no Ministério das
Finanças – e, por contágio, em S. Bento – há experimentalismo fiscal a
mais, sensibilidade social a menos e um confrangedor défice de
orientação política.
Paulo Portas, que encurralara infantilmente o
CDS na reivindicação, popular mas impraticável, de rejeitar qualquer
subida de impostos, tem passado o último mês em exercícios de
contorcionismo político de alto risco. Ao mesmo tempo, está e parece não
estar no Governo, concorda com o essencial da austeridade mas também
discorda, decide aumentar a carga fiscal mas aproveita para se queixar,
aplica o memorando da troika mas faz saber que está contrariado,
coliga-se com o PSD mas põe a correr que pode descoligar-se.
Conseguiu
uma pequena vitória com o recuo no IMI e o ligeiro alívio dos escalões
do IRS, em contrapartida por maiores cortes na despesa do Estado e pelo
despedimento de 30 mil contratados da função pública. Mas 2013
continuará a ser o ano com a mais pesada e exorbitante factura de
impostos paga pelos portugueses. Contrariando tudo o que Portas sempre
defendeu. Esses são os factos.
«SOL» de 12 Out 12 Etiquetas: autor convidado, JAL
2 Comments:
Pois, mas o maior mal entendido crio-o o próprio Passos Coelho quando, no Verão, andou a anunciar que 2013 ia ser o ano do início da recuperação...
Afinal, nem o défice o governo conseguir controlar. Os sacrifícios parecem não ter servido para nada. Tal como a ação do governo.
Agora estamos perdidos. E o governo está tão perdido quanto nós estamos. Parece ter apenas uma ideia bem definida: não mexer nos privilégios dos tubarões...
Diabo, anteriormente: "criou-o" e não "crio-o".
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