17.10.12

«Dito & Feito»

Por José António Lima
HÁ UM EQUÍVOCO que se criou desde a desastrada e já célebre comunicação de Passos Coelho aos portugueses em 7 de Setembro: é que com ou sem alterações na TSU haveria, cumulativamente, uma enorme e suplementar subida de impostos através das alterações dos escalões do IRS e da antecipação das novas tabelas do IMI.
Passos omitiu, então, esse segundo choque fiscal que já estava a ser ultimado pelo ministro Vítor Gaspar. Na verdade, o que veio, na prática, substituir o falhado aumento de 7% da TSU dos trabalhadores foi a sobretaxa de 4% sobre os vencimentos, tanto do sector privado como do sector público (além do corte, nunca questionado, de um subsídio aos funcionários públicos e pensionistas). E à sobretaxa acresce uma segunda e violenta subida da carga fiscal por via das mexidas nos escalões do IRS.
Passos e Vítor Gaspar recuaram primeiro no disparate social da TSU. Agora – e, ao que parece, graças à insistência de Paulo Portas e alguns outros ministros –, fizeram marcha-atrás no desvario social que seria a subida explosiva do IMI em 2013. Só se pode concluir que no Ministério das Finanças – e, por contágio, em S. Bento – há experimentalismo fiscal a mais, sensibilidade social a menos e um confrangedor défice de orientação política.
Paulo Portas, que encurralara infantilmente o CDS na reivindicação, popular mas impraticável, de rejeitar qualquer subida de impostos, tem passado o último mês em exercícios de contorcionismo político de alto risco. Ao mesmo tempo, está e parece não estar no Governo, concorda com o essencial da austeridade mas também discorda, decide aumentar a carga fiscal mas aproveita para se queixar, aplica o memorando da troika mas faz saber que está contrariado, coliga-se com o PSD mas põe a correr que pode descoligar-se.
Conseguiu uma pequena vitória com o recuo no IMI e o ligeiro alívio dos escalões do IRS, em contrapartida por maiores cortes na despesa do Estado e pelo despedimento de 30 mil contratados da função pública. Mas 2013 continuará a ser o ano com a mais pesada e exorbitante factura de impostos paga pelos portugueses. Contrariando tudo o que Portas sempre defendeu. Esses são os factos. 
«SOL» de 12 Out 12

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2 Comments:

Blogger José Batista said...

Pois, mas o maior mal entendido crio-o o próprio Passos Coelho quando, no Verão, andou a anunciar que 2013 ia ser o ano do início da recuperação...
Afinal, nem o défice o governo conseguir controlar. Os sacrifícios parecem não ter servido para nada. Tal como a ação do governo.

Agora estamos perdidos. E o governo está tão perdido quanto nós estamos. Parece ter apenas uma ideia bem definida: não mexer nos privilégios dos tubarões...

17 de outubro de 2012 às 23:36  
Blogger José Batista said...

Diabo, anteriormente: "criou-o" e não "crio-o".

18 de outubro de 2012 às 12:24  

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