16.10.12

Encontro Atirei o Pau ao Gato

Por Ferreira Fernandes
NO NATAL, Brasil, acontece esta semana uma daquelas coisas de que não falamos, e devíamos, o encontro de escritores da nossa língua (organizado pela UCCLA, União da Cidades Capitais de Língua Portuguesa). 
Natal é o sítio certo, como se vê logo pelo mapa-múndi: é a capital do estado do Rio Grande do Norte, aquela ponta mais oriental da América do Sul que, empurrada, se encaixa em África. Toca São Tomé, encosta-se a Angola, coroa-se com Cabo Verde e fala português. E, se não a empurrarmos, abre o mar da nossa língua, também conhecido por Atlântico Sul. 
Pela história, a capitania Rio Grande do Norte também tem pergaminhos, o seu primeiro donatário foi João de Barros, o autor de Gramática da Língua Portuguesa, a segunda escrita (1540), e a primeira com intenções didáticas, ilustrada para chegar ao maior número de pessoas. Chegou ao que este encontro do Natal representa. A Gramática de João de Barros fala também de "[...] adivinhações que jogam os meninos". 
Um dia, na Angola em plena guerra civil, num aeroporto abandonado, vi uma mãe jovem e triste cantando para três filhos que lhe agarravam as saias: "Atirei o pau ao gato..." Anos depois, li sobre uma polémica brasileira sobre as palavras, aparentemente insuportáveis no mundo moderno, de atirar um pau ao gato. 
Os dois episódios contraditórios confortaram-me, ambos: em longínquos lugares do mundo, a mesma cantinela da minha infância. 
Longa vida a encontros como este do Natal. 
«DN» de 16 Out 12

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