Encontro Atirei o Pau ao Gato
NO NATAL, Brasil, acontece esta semana uma daquelas coisas de que não
falamos, e devíamos, o encontro de escritores da nossa língua (organizado pela
UCCLA, União da Cidades Capitais de Língua Portuguesa).
Natal é o sítio certo,
como se vê logo pelo mapa-múndi: é a capital do estado do Rio Grande do Norte,
aquela ponta mais oriental da América do Sul que, empurrada, se encaixa em
África. Toca São Tomé, encosta-se a Angola, coroa-se com Cabo Verde e fala
português. E, se não a empurrarmos, abre o mar da nossa língua, também conhecido
por Atlântico Sul.
Pela história, a capitania Rio Grande do Norte também tem
pergaminhos, o seu primeiro donatário foi João de Barros, o autor de Gramática
da Língua Portuguesa, a segunda escrita (1540), e a primeira com intenções
didáticas, ilustrada para chegar ao maior número de pessoas. Chegou ao que este
encontro do Natal representa. A Gramática de João de Barros fala também de "[...]
adivinhações que jogam os meninos".
Um dia, na Angola em plena guerra civil, num
aeroporto abandonado, vi uma mãe jovem e triste cantando para três filhos que
lhe agarravam as saias: "Atirei o pau ao gato..." Anos depois, li sobre uma
polémica brasileira sobre as palavras, aparentemente insuportáveis no mundo
moderno, de atirar um pau ao gato.
Os dois episódios contraditórios
confortaram-me, ambos: em longínquos lugares do mundo, a mesma cantinela da
minha infância.
Longa vida a encontros como este do Natal.
«DN» de 16 Out 12 Etiquetas: autor convidado, F.F
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