1.10.12

O caso da aldeia cercada por touros

Por Ferreira Fernandes
SE HÁ LUGAR para nos contar, hoje, talvez seja a aldeia de Segura, Idanha-a-Nova. A melhor lenda, na esteira de O Leão de Rio Maior, de Fernando Pessa. De capote alentejano e bicicleta, Pessa interrogando para a RTP os aldeões, se viram o leão. E alguns: "Que sim, ali mesmo..." Eram tempos como os de hoje, também difusos, sem saber para onde íamos, mas indo. Eram vésperas do 25 de Abril e nem depois a democracia conseguiu pôr a claro o leão, ficando a convicção de que ele existiu, embora sem provas provadas. Tão português. Mas era um leão, um felino e só um - normal que desaparecesse. Mas uma manada selvagem de touros, como em Segura? 
A história surgiu nos jornais há semanas e, ontem, o Público fez uma reportagem cheia de dados. Serão 250 animais (fontes oficiais), mais de mil (na boca do povo), e cercando a aldeia. De noite ouvem-se os cascos no empedrado das ruas, já mataram um pastor, perseguem tratores, marram nos jipes e violam vacas domésticas (como os vampiros, eles entram pelo nosso mundo dentro). O bando é de uma herdade abandonada, de cercas derrubadas. Eles estão aí e o povo, impotente. Vieram campinos do Ribatejo e apanharam oito. A GNR montou um genocídio a tiro e recuou. O povo põe bala nas carabinas para lebres, e já há carcaças do inimigo, pasto de abutres. 
O outro de Nova Iorque dizia que havia que cuidar de um vidro partido para parar o banditismo. Nós deixamos a refogar uma guerra civil numa aldeia.
«DN» de 1 Out 12

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