O caso da aldeia cercada por touros
SE HÁ LUGAR para nos contar, hoje, talvez seja a aldeia de Segura,
Idanha-a-Nova. A melhor lenda, na esteira de O Leão de Rio Maior, de
Fernando Pessa. De capote alentejano e bicicleta, Pessa interrogando
para a RTP os aldeões, se viram o leão. E alguns: "Que sim, ali
mesmo..." Eram tempos como os de hoje, também difusos, sem saber para
onde íamos, mas indo. Eram vésperas do 25 de Abril e nem depois a
democracia conseguiu pôr a claro o leão, ficando a convicção de que ele
existiu, embora sem provas provadas. Tão português. Mas era um leão, um
felino e só um - normal que desaparecesse. Mas uma manada selvagem de
touros, como em Segura?
A história surgiu nos jornais há semanas e,
ontem, o Público fez uma reportagem cheia de dados. Serão 250 animais
(fontes oficiais), mais de mil (na boca do povo), e cercando a aldeia.
De noite ouvem-se os cascos no empedrado das ruas, já mataram um pastor,
perseguem tratores, marram nos jipes e violam vacas domésticas (como os
vampiros, eles entram pelo nosso mundo dentro). O bando é de uma
herdade abandonada, de cercas derrubadas. Eles estão aí e o povo,
impotente. Vieram campinos do Ribatejo e apanharam oito. A GNR montou um
genocídio a tiro e recuou. O povo põe bala nas carabinas para lebres, e
já há carcaças do inimigo, pasto de abutres.
O outro de Nova Iorque
dizia que havia que cuidar de um vidro partido para parar o banditismo.
Nós deixamos a refogar uma guerra civil numa aldeia.
«DN» de 1 Out 12 Etiquetas: autor convidado, F.F
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