29.9.12

Pedaço nacional feliz (só 15 dias)

Por Ferreira Fernandes
ENFIM! Depois de meses de discursos sobre a crise, os portugueses vão ter direito a duas semanas de esperança - basta, já a partir de amanhã, desligarem-se do retângulo e só prestarem ouvidos aos políticos açorianos. 
Com as eleições regionais marcadas para 14 de outubro, o socialista Vasco Cordeiro (candidato do Governo, no arquipélago, e camarada da oposição nacional) e a social-democrata Berta Cabral (candidata contra o Governo, no arquipélago, e companheira do Governo nacional), apesar de tão distantes, comungam do mesmo credo: com eles não haverá austeridade. Oiçam-nos, insisto: o anticiclone dos Açores pode ser um poderoso anti-depressivo. Só que efémero, dura 15 dias, depois os Açores serão portugueses como nunca. Quinze dias de vozes doces (violinos, ao fundo) a meterem o maior número possível de palavras na mais pequena das ideias: elejam-me. 
Um dia, um político americano, Adlai Stevenson, deixou fugir uma confissão: "Não chega que cada uma das pessoas inteligentes do país vote por mim. Preciso de ter a maioria." A crença na maioria burra é própria de todos os homens e mulheres que se apresentam a votos. Em tempos normais, será uma brincadeira inocente; em tempos destes, terríveis, é uma indecência. 
Mas não sou eu que vou, agora, deprimir-vos. Aproveitem os próximos 15 dias, parece que há umas ilhas felizes. Oiçam de lá as promessas, durante muito tempo talvez as últimas em território nacional. 
«DN» de 29 Set 12

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