19.12.12

Os impostos aos quadradinhos

Por Ferreira Fernandes
ESTAMOS em 2012 depois de Jesus Cristo, toda a Gália foi ocupada por Hollande... Toda? Não! Porque há uma barriga irredutível que resiste ao invasor. Esta barriga à volta de Obélix Depardieu sempre se sentiu lesada pelo poder central. Ou é o druída Panomarix que lhe recusa a poção mágica porque ele já caiu no caldeirão quando era bebé, ou é o ministro das Finanças que lhe taxa o excesso de javalis. Tanta sanha iria acabar mal. 
Sabem como se chama o último álbum escrito por Goscinny? Astérix Chez les Belges, Astérix entre os Belgas... Só errou no personagem: quem partiu foi Obélix. O peso de tal mole humana indo para tão pequeno país, estivesse René Goscinny ainda vivo, ele que gostava de alusões, diria a Uderzo para desenhar o tropel de elefantes e búfalos na savana de Serengeti, a maior migração de mamíferos do mundo... Mas hoje os humoristas são mais grosseiros e o peso da migração de Obélix Depardieu só mereceu uma capa do satírico Charlie-Hebdo: "Será que a Bélgica vai aguentar tanto colesterol?" Lá aguentou, porque a Bélgica adora os impostos dos outros. 
História acabada, hora do bardo cantar? Não, um bom álbum de Obélix tem muita bordoada. O primeiro-ministro francês chamou "miserável" a Depardieu. "Ils sont fous, ces Français!", explodiu o ex-francês, que, não tendo um menir à mão, lhe atirou com o passaporte. 
Ontem, já Putine lhe oferecia um novo. Depois de Tintin no País dos Sovietes, vamos ter "Obélix e o Czar"?
«DN» de 19 Dez 12

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