América, América
Por Ferreira Fernandes
EM NEWTOWN, a mais recente das pequenas cidades americanas tornada famosa por uma matança, o grande Elia Kazan (1909-2003) tinha uma quinta. Grego nascido em Constantinopla, ele foi o autor do filme cujo título, balbuciado por imigrantes ao ver a Estátua da Liberdade, é dos maiores hinos ao país: "América, América".
Em 1972, no fim de extraordinária carreira, Kazan fez um filme barato, todo rodado na tal quinta de Newton - The Visitors, Os Visitantes. Foi o primeiro grande filme sobre a guerra do Vietname e, como curiosidade, o primeiro filme com James Woods. Este era um soldado que viu dois camaradas de pelotão violar e matar uma vietnamita. Em tribunal, ele irá depor contra os assassinos. Quando regressa, sempre atormentado por esse drama, o soldado vai viver numa quinta com a mulher e o sogro. Este é um antigo soldado da II Guerra Mundial, que se passeia sempre com armas e até atira a cães e despreza o genro por ele não gostar de caça. Quando ele sabe da posição que o genro teve em tribunal, ainda o despreza mais - a tropa, pensa o velho soldado, tem um código que não permite denúncias.
Elia Kazan é o cineasta dos dramas individuais: Há Lodo no Cais, Esplendor na Relva, A Leste do Paraíso... Por ironia, Newtown, a cidadezinha onde Kazan viveu e filmou o poderoso Os Visitantes, não ficará conhecida por alguém com dramas de consciência como o protagonizado por James Woods, mas, sim, por mais um imbecil de gatilho fácil.
«DN» de 17 Dez 12
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