Os nossos ursos-marinhos e os juízes
Por Ferreira Fernandes
HÁ DIAS, apanhei-me a ler um artigo com mais interesse do que geralmente
dedico aos textos de divulgação científica. O The New York Times contava
casos da vida animal em que na atividade reprodutiva o "radar de
reconhecimento de possíveis companheiros falham." Na ilha Marion (nas
frias águas antárticas), um biólogo testemunhou os avanços feitos por um
urso-marinho a um pinguim, confundindo-o com uma fêmea da sua espécie. O
pinguim não foi na confusão, fugia, e o urso acabou por matá-lo e
comê-lo, dessa vez sem metáforas.
Diz o artigo que esse comportamento
não é tão incomum assim, acontece entre insetos, rãs, peixes e
pássaros... Os ursos-marinhos são os mais estudados nestes radicais
enganos de parceiro. O desacerto acontece em casos de machos mais fracos
do grupo que ficam sem par em plena época reprodutiva: empurrados pela
testosterona, tudo o que vem à rede é ursa-marinha. Houve um caso na
baía de Monterrey, na Califórnia, de um urso-marinho atacar sexualmente e
matar cinco jovens focas.
Os biólogos ouvidos pelo jornal lembram que
"na natureza não existe o bem e o mal" e que estes casos "estão dentro
da diversidade do comportamento normal possível." Sem dificuldade,
concordo com eles. Já me assusta mais os juízes portugueses armarem-se
em biólogos e soltarem os ursos não marinhos que batem nas mulheres. Até
que um dia (não virá no The New York Times mas no Correio da Manhã),
excitado pela testosterona, o urso a mata.
«DN» de 15 Dez 12 Etiquetas: autor convidado, F.F
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