Crónica de um semi-mentiroso
Por Ferreira Fernandes
ONTEM lembrei que Lisboa devia vender-se como A Senhora das Naus. Apelei para um museu, bem explicadinho, popular e universal, sobre os nossos Descobrimentos.
Um leitor telefonou-me contente por eu "defender a nossa História." Eu não o conhecia, a voz soou-me a de um velho senhor que se emociona com Fernão Mendes Pinto. Quem quer que fosse, era um ingénuo que não sabe nada dos tempos atuais e ainda menos de mim. Eu sou um casca grossa que só pensa em pilim, e da História só me interessa o nicho de mercado que ela é. Até receei que os governantes e investidores também vissem no meu apelo outro sentimento que não a balança de pagamentos.
O meu museu é uma fonte de receita, ponto. Que ele seria extraordinário e belo decorria de ser sobre os Descobrimentos. Mas acreditem, caros Álvaro, Gaspar e banqueiros, a questão é só euros. Àqueles turistas que desembarcam nos cruzeiros, faríamos abrir os olhos e a bolsa mostrando a vida, mesmo, numa caravela, igual às que fizeram o mundo redondo. Com holografias mostrávamos como por nossa causa a batata e o milho estão hoje onde ontem não estavam. E, com mapas, todos os lugares onde há "vinha d'alho" e todas as línguas que o dizem. Com bons advogados processávamos todas as cidades que têm setinhas, daquelas "Londres, 1750 milhas", "Bombaim, 8500 kms"... A patente é nossa porque tudo começou em "Lisboa, 0 léguas".
Não se assustem, não falo de desígnio nacional, falo só de euros. Juro.
«DN» de 14 Dez 12
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