Que Parlamento é este?
Por Baptista-Bastos
«DN» de 12 Dez 12
HÁ DIAS, na TVI 24, o prof. Paulo Morais fez um requisitório violento
sobre a corrupção, e os interesses que se entrelaçam nos deputados do
"arco do poder." Segundo disse, de manhã encontram-se, jovialmente, nos
escritórios de advogados e, à tarde, vão ao Parlamento representar
aqueles que lhes pagam.
Paulo
Morais ferrou-lhes o nome a fim de marcar a ignomínia do procedimento. A
corrupção só acabará quando eles forem varridos. Tarefa acaso difícil,
mas não impossível e ao alcance da nossa cidadania. A urgente
necessidade dessa empresa corresponde ao facto de "a nossa democracia
estar moribunda". Paulo Morais, professor universitário no Porto,
raramente é chamado pelas tv's; no entanto, o que diz, pelas verdades
que comporta, atroa os ouvidos.
É mau para a democracia atacar o
Parlamento, asseveram cândidas almas. Que fazer, então? Deixar que os
vendilhões se assenhoreiem do templo, e dar cobertura à bandalheira
indicada pelo prof. Paulo Morais? Aceitar, de ânimo leve, que gente
honrada, como outro que se não cala, o prof. Medina Carreira, seja
enxovalhada por uma Justiça escabrosa e por jornalistas de baixo jaez e
duvidoso estilo? As cumplicidades estabelecidas possuem ramificações
tenebrosas. Medina Carreira foi, obviamente, vítima de uma perversidade
sórdida, mas não fica imune da infâmia quem, sem curar de saber a
veracidade dos factos, tratou de transformar uma insídia numa aparente
verdade.
Este jornalismo de faca na liga talvez não prolifere;
mas anda por aí, e os seus mosqueteiros (e mosqueteiras) são aplaudidos
com desenvolta leviandade. A sociedade portuguesa sofre do mal do tempo,
dizem. Contudo, a brutalidade das transformações, por muito aceleradas
que sejam, não justificam as cedências e as baixezas a que assistimos.
Quando Luís Marques Mendes, em outra barricada, condena Vítor Gaspar,
por este nos tratar como "atrasados mentais", essa desordem e essa
perturbação têm muito a ver com a consciência do descaso e com a
admissão do imoral como norma.
Criticar o Parlamento e os que
tripudiam sobre a nobre função de deputado, para sobrepor as suas
conveniências aos imperativos sagrados do bem comum, não só amolga a
democracia: também vilipendia aqueles que a traem. Andamos
excessivamente preocupados com tratar delicadamente os que vão para a
Assembleia apenas para tratar da vidinha. É tempo de dizer, com o prof.
Paulo Morais, que (entre os demais) os drs. António Vitorino e Paulo
Rangel já estiveram juntos, de manhã, no mesmo escritório de advogados, a
defender causas e proveitos comuns; e, "separados", à tarde, na
Assembleia, a pleitear questões aparentemente opostas. Talvez não haja
conflito de interesses, mas o assunto causa engulhos, e atiça,
certamente, suspeitas de ordem moral. Naquele extremo cume da extrema
consciência [Camus] manifesta-se uma razão superior.
Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico«DN» de 12 Dez 12
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1 Comments:
Este parlamento é um parlamento que não representa, verdadeiramente, a generalidade dos cidadãos portugueses.
Quem escolhe as listas de candidatos a deputados são os diretórios partidários, constituindo meia dúzia de listas de nomes que são dadas a escolher aos eleitores.
A minha participação na escolha dos candidatos a deputado é nula, se não estiver inscrito num partido. E também não posso ser escolhido como candidato senão pelas direção de algum partido. Ora, isto nega o conceito (até etimológico) de democracia.
E, se compararmos com o tempo de Salazar, a diferença maior é que no tempo dele havia só uma lista...
Creio que pode estar aí uma forte razão para que muitos cidadãos não acreditem no parlamento nem votem nos partidos.
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