Metermo-nos na mala de Pepa
Por Ferreira Fernandes
GRAÇAS às redes sociais o nosso mundo pessoal está mais vasto. Agora até conhecemos a Pepa. A Pepa é frívola e fala com o único sotaque português feito em fábrica (ela preferia dizer que foi importado da Place Vendôme, Paris). O Herman já explicou o sotaque: nos anos 60, os meninos da linha queriam armar-se em sobrinhos do Champallimaud e inventaram a pronúncia em que os lábios não mexem e o som sai arranhado da garganta. Sobretudo nelas o efeito é notável e os efeitos do efeito devem ser bons porque o sotaque pegou. A Samsung pegou na Pepa e no seu sotaque e pô-la a dizer um objetivo para 2013: uma mala Chanel. Por causa do sotaque e de gostarmos de nos meter nas malas dos outros, foi um escândalo.
Já fomos mais simples e gostámos das malas de carton. Agora, os tempos estão para nos escandalizarmos com uma menina fútil e a sua malinha de 5 mil euros. Se olhássemos à volta saber-nos-íamos cercados por Pepas idênticas. Mas deu-nos para marrar com esta. A Samsung retirou a campanha.
Conhecem a origem do termo "caminho de Canossa"? É humilhar-se. Um imperador do Sacro Império Romano-Germânico, Henrique IV, excomungado pelo Papa, pôs-se três noites à porta do castelo de Canossa a implorar perdão. Foi perdoado mas os estados europeus ficaram séculos sujeitos a Roma. A Samsung ir buscar Pepa foi só uma ideia parva. Implorar perdão já é uma sujeição. Mais por isto que por aquilo, patrão da Samsung, eu despedia o publicitário.
«DN» de 12 Jan 13Etiquetas: autor convidado, F.F
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