Anúncios Luminosos
Por Alfredo Barroso
LEMBRO-ME de, quando era rapaz, ter
convencido um colega meu, oriundo de uma das colónias do Império, que Lisboa
tinha um clima temperado graças aos anúncios luminosos. Claro que ele não sabia
que o arquitecto Raul Lino era contra os anúncios luminosos nos Restauradores e
no Rossio, nem sabia, aliás, quem era Raul Lino.
É este um bom pretexto, caros leitores
friorentos, para vos dizer que, quando oiço Passos Coelho apanhado à má fila a
fazer uma daquelas declarações improvisadas em que debita inanidades num estilo
pomposo e com o lábio de cima esgalgado por um sorriso patético, lembro-me
sempre do meu crédulo colega de há mais de meio século.
Hoje ouvi o nosso primeiro dizer, nessa postura
e de esposa ao lado, que os portugueses já podem vislumbrar uma luz ao fundo do
túnel. O sorriso dele até parecia escarninho – como se estivesse a gozar com o
pagode – mas na verdade não passava de um esgar inestético. Em todo o caso,
esperemos que a luz que ele já consegue lobrigar ao fundo do túnel não seja a de
um comboio rápido que se aproxima de nós a toda a velocidade.
Eu diria que o grande magarefe Vítor Gaspar
(corta verbas como quem corta carnes num talho) é quem convence o nosso
primeiro a fazer estes anúncios luminosos, tal como eu convenci o meu colega de
outrora sobre as virtudes meteorológicas desse tipo de anúncios em Lisboa.
De facto, o nosso primeiro parece ter deixado
os miolos no talho, para se tornar no megafone do grande magarefe. Mas, como os
anúncios nunca lhe iluminam o verbo, ele passa o tempo a desconversar e a
descarrilar.
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