Portas, oiça esse silêncio...
Por Ferreira Fernandes
COMEÇO
a preocupar-me, até Paulo Portas, que me habituou a palavras certas,
disse ontem: "Há, evidentemente, na sociedade portuguesa certos sintomas
de desalento e de desânimo que é preciso contrariar com sensibilidade."
Não é a evidência anunciada pelo ministro que contesto, é a
profundidade dela. Ao pretender contrariá-la "com sensibilidade",
pareceu-me que para Portas a fossa em que os portugueses caíram poderia
ser tratada com a coisa pouca que animou ontem os sportinguistas - pelo
menos agora já têm um treinador que faz a barba. Mas o desalento e o
desânimo dos portugueses não podem ser resolvidos com a suavidade de um
bom creme de barbear.
Recorro às palavras do embaixador Seixas da Costa,
cuja estada em Paris o ajuda, quando cá vem, a ver, mesmo, o país: "As
pessoas estão mais tristes. Pior: a cidade está triste. Às tantas, é
mesmo o país que está triste...", escreveu, há dias, no seu blogue. Teve
comentários, e pouco depois voltou a sua nota para acrescentar: "Leiam o
comentário (assustador!) de Isabel BP..." Fui ver. A senhora escreveu:
"Até a habitual algazarra lisboeta desvaneceu e deixou de haver aquele
barulho de fundo tão caraterístico da cidade." Silêncio ensurdecedor já é
expressão batida, mas não me interessa aqui o estilo. É isso mesmo,
ando a ouvi-lo, ando a ouvi-lo... Desse silêncio certamente o INE não
tem indicadores, mas que é necessário haver, mais do que sensibilidade,
uma política para ele, é.
«DN» de 9 Jan 13 Etiquetas: autor convidado, F.F
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