Pressionados, os juízes dão sumo?

Por Ferreira Fernandes

POR ESTES dias os juízes do Tribunal Constitucional devem achar-se hesitantes. De um lado, levam com abaixo-assinados: se aprovais, é o dilúvio... De outro, apelos para aprovarem, senão é o desastre... Pediram conselhos, os meritíssimos? Não, mas é simpática a disponibilidade nacional para dar conselhos. Somos assim. 

É uma das qualidades lusas, essa de tomar a iniciativa de perguntar a um turista assarapantado se quer ajuda. Já um juiz, mesmo de tribunal superior e por muita perplexidade que aparente, bem pode esperar sentado pelos conselhos de, por exemplo, um parisiense. Portanto, vejam-se as interferências dos cidadãos portugueses em geral (incluindo neles os sindicatos e os secretários de Estado) como o normal funcionamento da Pátria. Outra coisa é o pé-de-vento que se armou por se achar essas interferências (as interferências do outro lado, claro) como uma pressão ilegítima! Aí, já deve ofender os juízes: serão eles raquíticos? Pressionáveis? Uma coisa é achá-los dispostos a receber aconselhamento, outra, de precisarem de ir ao ginásio enrijecer. Eu se fosse juiz do TC - atenção, isto é mero conselho, não é pô-los na máquina de sumos (nem eles deixariam, aliás) - puxava pelos galões (afinal o TC é descendente direto do Conselho da Revolução) e zangava-me. Também me zanguei quando vi jornalistas pés de salsa dizerem-se pressionados por telefonemas de ministros. Há profissões em que a queixa de pressões é uma vergonha.

«DN» de 8 Jan 13