14.1.13

Para lá de um Benfica-Porto

Por Ferreira Fernandes
NA RUA do Rivoli, em Paris, há uma igreja católica que foi doada aos protestantes por Napoleão. À porta, há uma estátua e sob ela está escrito no mármore: "No seu coração só habitava o desejo de servir a glória do Estado." A frase é de Montesquieu e homenageava o homem da estátua, o almirante Gaspard de Coligny (1519-1572). Este foi um estadista francês numa época de guerras religiosas que dividiram o país. Coligny era protestante e foi a mais famosa vítima do massacre de São Bartolomeu, que dizimou os protestantes. No entanto, a vida pública do almirante Coligny foi marcada por servir o seu país. 
Ele vem parar a esta crónica só por causa da frase que lhe dedicou Montesquieu e que ilustra uma atitude muito comum entre os políticos franceses: a noção de Estado. Protestantes ou católicos, ontem, de esquerda ou direita, hoje, os políticos franceses costumam saber que ficam mal vistos pelos seus cidadãos se, nos momentos graves do país, agem em chicana partidária. O Presidente Hollande, de esquerda, decidiu intervir no Mali e a oposição do UMP, de direita, fez questão de se perfilar com a posição da França. 
Essa lição não foi aprendida por cá. Li um deputado português (não foi Mangala nem Gaitán) a reduzir essa lição a um Benfica-Porto: "Se tivesse sido um presidente de direita a 'invadir' o Mali, o que ia para aí de críticas...", escreveu ele. Se calhar, até era verdade: com eleitos da tanga, os eleitores tendem a sê-lo também. 
«DN» de 14 Jan 13

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