Para lá de um Benfica-Porto
Por Ferreira Fernandes
NA RUA do Rivoli, em Paris, há uma igreja católica que foi doada aos
protestantes por Napoleão. À porta, há uma estátua e sob ela está
escrito no mármore: "No seu coração só habitava o desejo de servir a
glória do Estado." A frase é de Montesquieu e homenageava o homem da
estátua, o almirante Gaspard de Coligny (1519-1572). Este foi um
estadista francês numa época de guerras religiosas que dividiram o país.
Coligny era protestante e foi a mais famosa vítima do massacre de São
Bartolomeu, que dizimou os protestantes. No entanto, a vida pública do
almirante Coligny foi marcada por servir o seu país.
Ele vem parar a
esta crónica só por causa da frase que lhe dedicou Montesquieu e que
ilustra uma atitude muito comum entre os políticos franceses: a noção de
Estado. Protestantes ou católicos, ontem, de esquerda ou direita, hoje,
os políticos franceses costumam saber que ficam mal vistos pelos seus
cidadãos se, nos momentos graves do país, agem em chicana partidária. O
Presidente Hollande, de esquerda, decidiu intervir no Mali e a oposição
do UMP, de direita, fez questão de se perfilar com a posição da França.
Essa lição não foi aprendida por cá. Li um deputado português (não foi
Mangala nem Gaitán) a reduzir essa lição a um Benfica-Porto: "Se tivesse
sido um presidente de direita a 'invadir' o Mali, o que ia para aí de
críticas...", escreveu ele. Se calhar, até era verdade: com eleitos da
tanga, os eleitores tendem a sê-lo também.
«DN» de 14 Jan 13 Etiquetas: autor convidado, F.F
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